Análise: Organizadas ainda são arriscadas

A iniciativa de Palmeiras e Corinthians para tornar as torcidas organizadas algo comercialmente rentável pode trazer uma série de benefícios, mas ainda não está longe do risco. De forma geral, essas instituições têm uma imagem pesada no imaginário popular, o que pode ser um problema.

Em teoria, as ações são perfeitas. Colocar a escola de samba como pré-jogo, por exemplo, é tão óbvio que surpreende que não tenha sido feito antes. Levar esse clima mágico do Carnaval só enriquece o futebol. O futebol que, por sinal, tem excluído sistematicamente as festas populares nas arquibancadas, com diversas proibições. Os bandeirões, papéis e fogos de artifício viraram símbolos proibidos do esporte brasileiro.

O caso do Corinthians parece igualmente óbvio: homenagear o grupo de torcedores que há 50 anos se reúne para acompanhar o time. É uma ação no mínimo justa.

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Seria tudo perfeito se as torcidas organizadas não tivessem suas imagens diretamente ligadas à violência. E esse é certamente um dos maiores problemas do futebol no Brasil. A sensação de insegurança afasta torcedores dos estádios e patrocinadores dos times e campeonatos. A violência é uma verdadeira âncora para o futebol nacional.

Para piorar, o Brasil não vive o momento político intelectualmente mais brilhante de sua história. Aparentemente, o que fala mais alto hoje é a solução simples para problemas complexos. O que significa que as organizadas podem ter dias difíceis. Para parte da mídia e dos torcedores, elas são o centro da violência. Ignora-se todos os fatores sociais e todo o histórico de proibições para a caça às bruxas.

Comercialmente, para o clube pouco importa a origem do problema. Sempre que houver casos de violência, estará lá a imagem das organizadas e do clube. E a instituição esportiva terá que responder por uma suposta conivência com esses grupos. Isso já aconteceu antes, mesmo sem as ligações comerciais mais recentes.

A associação com as organizadas parece ter mais vantagens. Ela cria um diálogo raro entre clubes e esses grupos, além de gerar atrativos para os torcedores comuns. Com a Mancha Verde no gramado do Allianz, o Palmeiras e a administração do estádio criaram um evento para um jogo pouco atrativo, algo tão necessário na indústria do esporte e que tanto se vê nos mercados mais desenvolvidos do mundo.

Com as organizadas no papel de algo interessante economicamente, talvez agora os clubes se mobilizem para buscar soluções mais efetivas contra a violência.

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