São Paulo e os paulistanos adoram se gabar de sua relativa superioridade econômica em relação ao restante do país. Deitado no berço esplêndido da falácia de “estado mais rico do Brasil”, da “cidade que move o país”, somos capazes de produzir algumas aberrações fantásticas, que vão muito além de prefeitos que não cumprem o mandato e usam a cidade como trampolim para alçar cargos públicos maiores ou achar divertido pagar R$ 50 por um sanduíche.
Dentro da lógica de que o dinheiro é que manda em tudo, o paulistano tem uma predileção em querer privatizar tudo. Quando, em 2016, Fernando Haddad ousou fechar a avenida Paulista para carros aos domingos para abrir mais uma área pública de lazer, o paulistano tentou de todas as formas vetar uma aberração dessas, que feria o uso do carro particular em benefício daquilo que costumamos chamar de “pessoas”.
O caso do estádio do Pacaembu é o melhor exemplo de como não conseguimos pensar em soluções púbicas para gerar benefício à população. Não existe um evento organizado pela prefeitura que seja dentro do estádio. Sim, os moradores do bairro tentam ao máximo boicotar o uso do estádio por terceiros, tanto que conseguiram, na microgestão Doria, proibir o acesso às áreas internas do estádio ao público que não é morador do bairro. Mas imagine quão ilógico é a prefeitura ter uma área para realizar atividades e simplesmente não planejar seu uso pelo público. É basicamente você ter um parque, mas só abri-lo a moradores do bairro e locatários.
Quando o Corinthians deixou de jogar no Pacaembu para ir atrás do sonho da casa própria, a cidade de São Paulo viu-se diante de um dilema. O que fazer com o estádio? Vale lembrar que foram os vereadores que proibiram a concessão do local para o clube paulista, que até então queria um estádio mais moderno para poder fazer mais dinheiro e reinvestir dentro do próprio time, à época liderado por Ronaldo Fenômeno.
Hoje, com uma prefeitura que pensa apenas na privatização, a única solução para o Pacaembu é ser entregue a alguém que consiga planejar ordenadamente o que fazer do estádio, mas sabendo que, para isso, o futebol precisará deixar de ser o carro-chefe do espaço. Se der certo, será um caso inédito na história da gestão de arenas.
A quem ama o projeto de estado mínimo, porém, fica o aviso. O futebol brasileiro é gerenciado dessa forma pela CBF. Já as ligas americanas poderiam ser a melhor expressão de como funcionaria um estado bem atuante dentro de um ecossistema…