Análise: Por que a crise da Iaaf é pior do que a da Fifa?

Em maio, após avalanches de denúncias, prisão de dirigentes e renúncia do ex-todo-poderoso Joseph Blatter, a Fifa mergulhou num lamaçal do qual ainda não conseguiu submergir. Parecia que nenhuma entidade esportiva pudesse enfrentar tão grave crise de imagem.

Parecia. Seis meses depois, o atletismo conseguiu mostrar que o lodaçal na administração esportiva pode ser ainda pior. Lamine Diack, o ex-presidente que saiu bastante aplaudido em seu discurso de fim de mandato, está preso. Denúncias de tráfico de influência atingem seus dois filhos, Papa Massata e Khalil. O primeiro teve mandado de prisão expedido pela Interpol.

Há mais de um ano, já alertava, neste mesmo espaço, que a crise do atletismo era a mais grave e não tinha precedente na história. Desde a divulgação de documentário na TV alemã, em dezembro de 2014, de que havia política de acobertamento de doping na entidade, a Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) foi continuamente sendo atolada por novas denúncias.

Fifa e Iaaf não perceberam que em um mundo amplamente conectado e bombardeado pela informação online, é muito mais difícil esconder negociatas, propinas e corrupção.

Mergulhados em toda essa lamaceira, a tarefa da Iaaf de reconstrução de imagem parece muito mais desafiadora do que a da Fifa. O futebol terá a chance de reconstruir sua imagem corporativa com a eleição do novo presidente, no mês que vem.

O atletismo, por sua vez, mergulhou em uma crise sobre os próprios valores do esporte. Uma das principais potências, a Rússia, está fora da Olimpíada do Rio, algo que nunca aconteceu antes com nenhum país ou esporte. Mesmo assim, será difícil acreditar tão cedo na lisura das pistas após centenas de casos de doping serem encobertos em troca de polpudas propinas.

Para enfrentar a crise, a Iaaf poderia implantar medidas radicais. Uma delas seria a revisão de toda a tabela de recordes, com marcas que nenhum ser humano, em condições normais, jamais voltará a alcançar. Seria uma resposta contundente. A credibilidade do esporte clama por isso. 

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