A Inglaterra celebrou no último fim de semana o bom público apresentado na primeira rodada da WSL, a liga de futebol feminino do país. Com quase 63 mil pessoas em seis partidas, a disputa multiplicou por 12 o número de fãs nas arquibancadas em relação à temporada anterior. Mas isso não significa que o torneio esteja em um caminho definido. Assim como acontece em produtos esportivos no Brasil, no velho continente a precificação de ingressos tem gerado debate.
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A discussão, que ganhou destaque no jornal “The Guardian”, está em cima da diferença de público de Manchester City e Chelsea. O City resolveu cobrar £ 7, cerca de R$ 35, pelo ingresso. Com direito a entrada gratuita para crianças, a equipe reuniu 31 mil torcedores. Já o time londrino liberou os ingressos de graça, esgotou as entradas, mas, na hora do jogo, teve apenas 24 mil presentes na arena do clube.
Uma das hipóteses é que, ao se comprometer financeiramente, a tendência é que o torcedor não deixe de comparecer. Isso mesmo com uma quantia considerada baixa. Afinal, o tíquete médio da Premier League é de £ 31, número que cresce quando a partida é do Manchester City. O valor cobrado, portanto, pode ser considerado acessível na Inglaterra.
Outra questão, também básica, está no peso da precificação na compreensão de valor do produto, um dos pilares do marketing. O jogo do City pode ter sido entendido como mais valioso em relação ao evento realizado pelo Chelsea. Distribuir ingresso não costuma valorizar o evento.
As direções dos clubes admitem que esse é um período de testes, realizados em um momento em que o futebol feminino tem ganhado um status completamente diferente do que tinha no passado. Na partida do Chelsea em Londres, por exemplo, o ingresso só podia ser retirado mediante um cadastro do torcedor. O plano, claro, era ter o perfil de quem estava interessado em uma partida entre as mulheres.
Os clubes também terão que decidir se vale a pena colocar as partidas do futebol feminino como abertura dos times masculinos, uma possibilidade discutida, mas que parece ir na contramão do desenvolvimento sustentável da modalidade.
De qualquer maneira, vale ficar atento às dúvidas dos ingleses. A precificação de ingressos é uma dificuldade antiga do mercado brasileiro, seja com tíquetes de valores abusivos no futebol, com estádios vazios, ou na decisão de eventos gratuitos, como acontece em modalidades populares no país, casos do basquete e do vôlei.