Análise: Rodada mostra limites da política

Em fevereiro deste ano, uma coluna do apresentador da Globo Tiago Leifert na revista GQ gerou polêmica pela crítica de manifestações políticas no esporte. Oito meses depois, a rodada do Campeonato Brasileiro mostra que a discussão deve ser levada a sério pelo segmento.

Há uma certa unanimidade de que o afastamento entre política e esporte é um movimento conservador e que pouco tem a ver com a História do próprio esporte. Ao longo do século, diversas questões foram levantadas e debatidas graças a manifestações de times, atletas e torcedores ao redor do mundo.

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Mas o limite é claro: quando a manifestação deixa de ser política para ser partidária. Nesse caso, parece não ser o papel do esporte servir de palanque. Infelizmente, foi o que aconteceu no Brasil no fim de semana, durante o Brasileirão.

O volante do Palmeiras Felipe Melo tomou a liberdade de dedicar seu gol ao “futuro presidente Jair Bolsonaro”. O presidenciável, com posições no mínimo polêmicas, ganhou mais manifestações com o seu nome: “Cruzeirense, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar veado”, gritou parte da torcida do Atlético Mineiro.

Obviamente, a indústria do esporte não pode se prestar a ser porta-voz desse tipo de mensagem. Assim como não poderia ser amplificador de mensagens de “Lula livre” ou coisa do tipo. Gritos partidários destoam do contexto esportivo.

O curioso é que existe um tratamento que não é igual dentro do esporte. Basta lembrar que, neste ano, o Corinthians foi impedido de jogar com a palavra “Democracia” no uniforme durante a Libertadores. Foi entendido que isso seria uma manifestação política dentro do torneio que tem o nome de Libertadores da América.

Nos Estados Unidos, algo surreal tem acontecido há dois anos: a repressão a manifestações contra o racismo. Sob a justificativa calhorda de desrespeito ao hino, atos de jogadores negros têm sofrido pressão direta até do presidente Donald Trump.

Historicamente, política tem muita relação com o esporte, mas como elemento de ruptura. É com o esporte que alguns grupos com menos voz conseguem gritar para o mundo, e isso é uma das coisas mais espetaculares desse segmento.

Apoio partidário, por outro lado, abre caminho para suporte a discursos que deveriam ficar distantes do esporte. Não é fácil medir o que deve ser permitido, mas afastar a figura do político parece um caminho mais simples para isso.

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