Um dos argumentos daqueles que defendem que clubes de futebol se tornem empresas é que, nesta condição, as equipes ficam livres das influências políticas. Dessa maneira, pode-se pensar em planejamentos a longo prazo, sem correr o risco de mudanças de estrutura a cada eleição.
O argumento desconsidera que um grupo de associados de um clube pode perfeitamente montar uma estrutura altamente profissionalizada que seja blindada aos processos democráticos de instituições centenárias, com as mais diversas correntes de pensamento sobre o que é melhor para a saúde esportiva de um time.
O Santos tem dado um perfeito exemplo do quanto isso é complicado. Quando José Carlos Peres foi eleito, no fim do ano passado, havia uma expectativa otimista. O atual presidente tem uma longa história com o clube, com uma ligação política mais forte no começo deste século. Criou a ONG Santos Vivo, pressionou gestões suspeitas, ganhou espaço. Depois, liderou o G4 Paulista, organização que tentou, em vão, unir os quatro maiores times do Estado em acordos comerciais.
A gestão de Peres tinha tudo para dar certo, algo reforçado com a busca de alguns dos bons profissionais do esporte brasileiro para a área de comunicação e marketing. Mas tem dado errado.
No próximo dia 10, será votado o possível impeachment do presidente, com base nas contas deficitárias do clube. A crise foi ampliada graças ao infame caso de escalação de jogador irregular na Libertadores.
Independentemente de erros e acertos, o que tem acontecido com Peres é, essencialmente, falta de força política frente aos grupos derrotados nas eleições. Pessoas que, sem nenhuma cerimônia, preferem a falência do clube ao triunfo da oposição. É o caso mais claro de que a política impede, com força, um processo profissional.
A situação não é exclusiva do Santos. No São Paulo, os conflitos na gestão de Carlos Miguel Aidar, com todas as baixarias envolvidas, foram públicos, assim como tem acontecido com grupos distintos do Palmeiras, na briga contra a atual patrocinadora. No Corinthians, a falta de força da oposição é que tem proporcionado paz à equipe.
Para os defensores do modelo clube/empresa, há uma má notícia: aqueles que impõem o caos são os mesmos que impediriam uma mudança do tipo. Uma mudança, de fato, passaria por um processo interno, com a pressão dos sócios, com um maior envolvimento de torcedores na gestão do clube. O que, claro, não é nada simples.