A ideia de Ronaldo e Matthieu Fenaert de implementar na Espanha o projeto de um sócio-torcedor do Valladolid é excelente, desde que o clube não caia no mesmo erro que os times brasileiros cometem hoje.
Os programas aqui foram fundamentais para os clubes terem um aumento substancial de receita recorrente do torcedor. Incentivados pela Ambev, os times investiram pesado na criação e desenvolvimento de seus programas de relacionamento. Essa foi uma espécie de nova leitura para o que é o carnê de ingressos, popular na Europa.
O problema é que os clubes simplesmente abandonaram, por aqui, o olhar do marketing para o torcedor que não é associado do clube. E, aí, acabam deixando de lado o que poderia ser a maior fonte de receita para a instituição, que é o torcedor que não está disposto a investir mensalmente no clube, mas deseja consumi-lo de diversas outras maneiras possíveis. Hoje, não há qualquer estratégia de marketing dentro dos clubes que não seja voltada apenas para seus sócios-torcedores.
O curioso é que o futebol se esquece qual é a origem de um programa de relacionamento com clientes. Esse modelo foi criado pelas empresas para ter uma fidelização do consumidor. Ao criar programas de vantagens com descontos, elas tentam fazer o consumidor voltar a usar seu produto. Ora, o que um clube de futebol menos precisa na vida é de um programa de fidelidade de um torcedor. Como qualquer um que gosta de esporte sabe, “virar a casaca” não é prática de um torcedor-raiz.
Fundamental para o crescimento dos clubes na década passada, o sócio-torcedor hoje é um estorvo. Por mais esforço que os departamentos de marketing façam para dar mais vantagens aos programas, eles já atingiram o limite de crescimento.
Os clubes ainda não notaram que o programa de sócio-torcedor deveria ser visto e vendido como um plano de fidelidade para ir ao estádio. E isso não é nenhum demérito. É exatamente como funciona o programa de milhagem de uma companhia aérea. Quanto mais o torcedor pagar, mais barato fica para ele ir a um jogo. Quanto mais comparecer ao estádio, mais antecedência ele tem para comprar o ingresso.
Os clubes precisam abandonar de vez o conceito de que seu consumidor é apenas aquele que se dispõe a ser um sócio-torcedor. Não é preciso fidelizar um torcedor de futebol. É necessário apenas criar produtos que alimentem sua paixão pelo clube. Do jeito que está hoje, o sócio-torcedor ruiu o marketing do clube de futebol no Brasil.