Análise: Supremacia inglesa é projeto de décadas

O Brasil parece que finalmente saiu do luto dos 7 a 1 (sim, ainda é preciso lembrarmos desse placar) e começou a entender que fomos sugados por um buraco negro de qualidade futebolística. Isso agora começa a incomodar e mostrar que precisamos discutir o conceito que adotamos sobre qual era o princípio de um jogo de futebol há cerca de 25 anos, quando Dunga levantou a taça de uma Copa do Mundo após 24 anos e disse: “essa é para vocês, traíras”.

Acostumamo-nos, ao longo das últimas décadas, a entender o futebol apenas com o olhar do vencedor. Em 1994, isso era algo absolutamente natural para um país traumatizado pelo belo e não vencedor Brasil de 1982. Queríamos o título. Se, até a tragédia do Sarriá, havíamos entendido que era preciso jogar bonito para ser campeão, Paolo Rossi e companhia nos mostraram que nem sempre o mais belo é o vencedor. E, assim, surgiu Parreira e seu pragmatismo, reforçado depois por Scolari e sua guerra constante para conquistar a América.

Ao longo desse tempo que passamos desconstruindo a história do futebol brasileiro, os ingleses também foram mudando o conceito sobre o que é futebol. Eles são um povo que ama tanto o futebol que criaram um problema de segurança pública, o hooligan. Por causa do torcedor que ia ao estádio para brigar em defesa do amor incondicional por seu time, os ingleses precisaram mudar radicalmente o sentimento que tinham em relação ao esporte.

Foram quase 25 anos de transformações lentas. Primeiro, na punição ao pugilista travestido de torcedor. Depois, na criação de uma série de regras sobre como tem que ser um estádio moderno, seguro e confortável para o torcedor. Por fim, os ingleses mexeram naquilo que lhes era mais valioso: a maneira de praticar o esporte.

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Saíram os chutões para o alto em gramados lamaçentos, entraram o toque de bola em velocidade no tapete verde mais liso e bonito que os do palácio da Rainha. Ao mesmo tempo, a Premier League foi olhar como faziam os americanos para transformar o seu campeonato num produto comercial. Importaram o conceito de divisão de receitas mais justa para aumentar a competitividade entre os times. E deixou que os estrangeiros investissem nos clubes para ampliar a capacidade de investimentos.

Foram necessários 30 anos de lentas transformações para a Inglaterra ter supremacia dentro de campo. Agora, o Brasil começou a entender que o futebol precisa voltar a ser jogado de outra forma por aqui. Pelo menos o pontapé inicial foi dado.

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