Análise: Técnico ídolo não pode ser descartável

É uma realidade diferente, que, às vezes, pode gerar estranheza: um técnico ídolo. Mas, no último fim de semana, duas torcidas se reuniram no aeroporto para receber um novo treinador. Fábio Carille, para os corintianos, e Jorge Sampaoli, para os santistas, chegam aos clubes com um status acima do normal.

O Santos fez o que faria como se tivesse contratado um grande atacante: uma série de ações, com patrocinadores e sócios. O marketing do clube foi perfeito em aproveitar a empolgação dos fãs com o novo comando do time. Para os patrocinadores, por exemplo, a criação de um grande fato no meio do período de férias é um alívio e um claro sinal de uma diretoria comprometida com seus parceiros.

O problema está no campo: técnico no Brasil é descartável. Há um caso notável no futebol brasileiro. Em 2011, o Internacional contratou Paulo Roberto Falcão, ídolo histórico do clube, para ser treinador. A chegada do técnico empolgou o marketing, que fez plano para aumentar o quadro de sócios, além de produtos licenciados com o nome e o rosto do ex-jogador. Três meses depois, o profissional estava demitido.

Há por aqui a terrível cultura de demitir técnico com muita frequência, sem nenhum compromisso com o planejamento de um profissional. É uma amostra de quanto os clubes são geridos de maneira passional, nem sempre eficiente.

E essa atitude gera um problema para o marketing quando o técnico é alçado a ídolo. Os produtos licenciados formam o caso mais claro, com o encalhe das peças. Mas há também um constrangimento entre marcas e torcedores quando há a participação de uma ação em torno de um nome que pode se tornar vilão com facilidade.

Parece claro que o Santos não precisa deixar de lucrar agora com receio do futuro, mas a ação certamente será mais eficiente caso o profissional contratado receba a valorização necessária para continuar o trabalho. E, mais do que isso, daria segurança para parceiros em uma ação futura com técnicos dentro do clube.

Em uma época de escassez de ídolos, em que jogadores partem logo para fora do país, não há nada de errado em alçar o treinador a um patamar diferente. Tite, no Corinthians, e Muricy Ramalho, no São Paulo, são casos claros de profissionais sentados no banco e que têm o carinho das arquibancadas. Mas, ao colocar os treinadores nessa condição, o clube tem algumas responsabilidades que não costumam rodar o futebol. Com as ações, o Santos tem uma obrigação ainda maior de dar tempo a Sampaoli.

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