A tentação de “lacrar” na internet tem levado a sociedade a viver situações até então impensáveis no mundo real e que antes eram típicas do mundo virtual. O caso Sidão é só mais um exemplo de como não é tão simples transportar o comportamento de um tipo de ambiente para o outro.
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É um absurdo ainda maior a humilhante situação vivida pelo goleiro vascaíno ter partido de um dos mais influentes canais de futebol no YouTube brasileiro atualmente. O Desimpedidos não pode deixar de entender sua importância como formador de opinião no mundo atual. Isso vale tanto para justificar os quase R$ 100 milhões que o veículo faturou no último ano quanto para entender sua posição no mercado.
Como o próprio perfil da empresa gosta de frisar, o que move o canal é o conceito de que “a zoeira não tem limites”. Mas é preciso compreender que toda liberdade acaba quando fere o próximo. Não pode um canal estabelecido e influente não ter noção da responsabilidade sobre o conteúdo que ele publica e repercute.
Essa tênue linha que separa o mundo virtual do real é, da mesma forma, aquela que separa o humor da humilhação. Não podemos achar que é legal tirar sarro do outro sem pensar no outro lado.
O caso Sidão mostra exatamente o degrau que os influenciadores digitais ainda precisam subir na escada do profissionalismo. Quando o jornal Extra, do Rio, provocou o linchamento moral do goleiro Muralha, do Flamengo, questionou-se a função do jornalismo. No caso do Desimpedidos, é curioso notar como o canal não é visto como jornalístico, apesar de sê-lo.
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Estamos vivendo hoje uma nova era no relacionamento das marcas com os tais influenciadores. Passada a euforia dos milhões de seguidores, começa o questionamento de qual é de fato a influência que eles geram para as pessoas e o que isso traz de benefício para as marcas. O caso Sidão e Desimpedidos é mais uma prova disso.
Todo humor, apesar de engraçado, carrega consigo uma enorme crítica. Ser sarcástico é fazer crítica de forma engraçada. Geralmente, o grande humorista é aquele que consegue ser extremamente crítico, sendo divertido ao mesmo tempo. Só que ele geralmente sabe ver qual é o limite que existe entre o humor e a humilhação. Os canais influentes de esportes têm geralmente confundido bom humor com a “zoeira sem limites”.
O esporte permite a leveza da brincadeira. Mas desde que ela entenda que, para ser boa, precisa ser leve. Do contrário, será um crime contra quem for ofendido.