Análise: Torcedor ainda é genérico no Brasil

Um dos maiores abismos que separam o mercado esportivo americano do brasileiro está no modo como o consumidor é mensurado. Nos Estados Unidos, existe uma preocupação muito maior em entender quem é o torcedor e quais são os hábitos de consumo dele durante um grande evento.

Nesta semana de Super Bowl, a questão fica mais evidente. A Nielsen americana lançou nesses dias dois levantamentos gratuitos que mostram o quanto existe uma maior profundidade no país sobre o assunto. Os dados, claro, são para chamar clientes, e o que está aberto está longe de ser o mais profundo. Ainda assim, é mais do que se costuma falar nos bastidores do patrocínio esportivo no Brasil.

O primeiro levantamento da Nielsen mostra como o consumo dos torcedores tem mudado nos últimos anos durante o Super Bowl. A questão passa, por exemplo, pelo aumento de venda de produtos mais saudáveis no dia do evento, na contramão da tradição de comidas fritas.

Um dado específico chama atenção: houve um aumento significativo da audiência feminina nesta década. E há um ponto fundamental nessa informação: a bebida favorita do público feminino para o Super Bowl é o vinho, e não a cerveja, uma das principais investidoras no mercado publicitário do esporte americano.

O outro levantamento se refere às diferenças entre os torcedores dos dois times. Mais popular, nacional e com público mais velho, os fãs do New England Patriots têm hábitos de consumo bem distantes do que apresentam os fãs dos Los Angeles Rams. Por exemplo, os seguidores da equipe da Califórnia gastam o dobro em bares no Super Bowl, enquanto quem acompanha a agremiação do Massachusetts vai investir mais em melhorias para a casa.

Ter o máximo de dados sobre torcedores tem duas importâncias fundamentais. A primeira é quebrar o senso comum, como é o caso dos dados sobre consumo de cerveja. Em qualquer curso básico de comunicação, tanto de publicidade quanto de jornalismo, aprende-se a colocar o senso comum como inimigo; ele sempre pode te levar ao erro. Ainda assim, não faltam profissionais que gostam de reduzir torcedores a uma determinada característica genérica, como “muito apaixonado”.

O que leva à segunda importância: compreender que o torcedor não é plano. Ele é complexo e tem diversas variações e comportamento. Cada investimento e objetivo requer uma ativação específica. Generalizar o fã é uma miopia em marketing.

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