Análise: Uber chora antes para sorrir depois

Na pesquisa que realizamos no último mês com quase 900 pessoas sobre a percepção que o torcedor do futebol feminino tem sobre a modalidade, chama a atenção, ainda sem termos todos os resultados consolidados, a insatisfação que as pessoas têm com a mídia e os patrocinadores.

O motivo, não sem razão, é o descaso que ambos têm com a modalidade no período de entressafra dos grandes eventos. A frase “só demonstra interesse quando há um grande evento” é a que teve mais respostas para mensurar como o torcedor enxerga o movimento da mídia e dos patrocinadores em relação ao apoio ao futebol feminino.

E a própria atenção dada por nós à Copa do Mundo recém-encerrada na França é uma prova sistemática disso. Foram raras as empresas que de fato mostraram que havia um plano para o futebol feminino. Ou, pelo menos, uma convicção naquilo que estava sendo feito. O exemplo mais claro disso, na minha percepção, foi a reação de várias companhias depois que a primeira delas ganhou espaço na mídia ao anunciar que iria parar o expediente para o torcedor acompanhar os jogos da seleção brasileira. 

A quantidade de comunicados que passamos a receber no e-mail depois que o primeiro caso teve bastante repercussão na grande mídia foi uma grandeza. Da mesma forma, a descoberta da Globo de que há alta audiência para os jogos não apenas da seleção parece ignorar o bom histórico que a Band sempre teve no esporte.

Só que, comprovando que a percepção do torcedor não é tão equivocada, o que foi feito pelas empresas que compraram mídia na TV aberta para criar propaganda para exaltar nossas jogadoras pré-Copa? Qual delas tinha de fato um plano de comunicação para usar o mesmo espaço e homenagear as jogadoras do Brasil? De que forma essas marcas estão pensando e se aliando ao futebol feminino agora?

Em meio a esse cenário, a Uber construiu um outro caminho. Foi levar o debate sobre empoderamento feminino de forma sólida a partir do futebol feminino. A marca “esqueceu” da Copa. Foi ao futebol masculino para passar recado, buscou seus times patrocinados e estendeu o acordo para as mulheres. Agora, entra no Brasileirão da modalidade, que tem tudo para estourar mesmo a partir do ano que vem. Mas pega o evento ainda na baixa, com uma lufada de que pode vir a ser grande.

Pelo visto, a Uber entendeu o recado de Marta. Ela está chorando antes. Mas, muito provavelmente, será uma das poucas que vai sorrir depois…

Sair da versão mobile