Em meio ao movimento da Câmara de Deputados para facilitar a transformação de clubes de futebol em empresa, o futebol brasileiro assistiu, na última semana, a um W.O. do time que seguiu esse modelo de gestão, o Figueirense. O caos financeiro da equipe é uma péssima notícia, mas pelo menos serve de luz para a corrente que acredita cegamente em uma solução mágica.
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O Figueirense representa o atual fracasso de um clube-empresa no Brasil, mas está longe de ser o único. Nos últimos anos, foram diversos casos, com times de diferentes grandezas. O Bahia foi ao fundo do poço nessa condição, e o Grêmio Barueri chegou a ficar inativo na temporada passada. Até entre gigantes o resultado foi pífio. Basta considerar que, na prática, o Corinthians cedeu metade do seu futebol a uma companhia estrangeira, a MSI, em 2005. E o resultado foi uma inédita segunda divisão.
Obviamente, virar empresa não tem relação direta com fracasso. Hoje, Botafogo de Ribeirão Preto e Red Bull Brasil são exemplos de equipes que sobrevivem dessa maneira. Mas está muito longe de ser uma solução absoluta para o futebol brasileiro.
De modo pouco organizado, quando um clube se torna uma sociedade anônima, especialmente se vende mais de 50% das ações, ele fica totalmente desprotegido de aventureiros. O Figueirense caiu no conto de que seria profundamente modernizado com uma gestão profissional, mas, segundo a “Folha de S.Paulo”, o grupo de investimento conta com investigados pela Operação Lava-Jato e nomes ligados a lavagens de dinheiro realizadas pelo ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.
Até o antigo CEO do Figueirense, Alexandre Bourgeois, chegou a admitir que não sabia quem eram os investidores que formavam a Elephant, empresa que assumiu o comando quando o clube passou a ser uma sociedade anônima.
Há um discurso comum entre pessoas ligadas à gestão do esporte de que se tornar empresa é um caminho para que o futebol seja mais profissionalizado, mas a verdade é que ser empresa não é garantia alguma de seriedade. Hoje, tornar-se uma sociedade anônima apresenta mais risco do que sucesso para grandes times brasileiros, que têm uma base de sócios sólida e processos eleitorais mais ou menos estruturados.
Atualmente, o modelo mais adequado a se seguir para levantar fundos seria o alemão, que não permite que o clube deixe de ser acionista majoritário. Talvez seja um caminho. Mas canetada baseada em suposições definitivamente não é o modo mais saudável.