No romance “Complô contra a América”, Philip Roth imagina a eleição de Charles Lindbergh à presidência dos EUA em 1940, derrotando o democrata Franklin Delano Roosevelt. O republicano era simpatizante de regimes totalitários (chegou a receber medalha nazista), nacionalista radical e dizia-se fora do sistema político. Na ocasião, porém, Roosevelt saiu vitorioso.
Quase 80 anos depois, o que era ficção se tornou realidade. Candidato distante das lideranças de seu próprio partido, com ideias xenófobas, misóginas e preconceituosas, Donald Trump foi eleito presidente.
É cedo para dimensionar o que isso representa para o esporte. De cara, a aversão do novo presidente a estrangeiros não ajuda o processo de expansão das grandes ligas dos EUA pelo planeta. O processo deve ser mais sentido por NBA, que iniciou a estratégia há mais tempo, e por NFL, que desbravou recentemente novos mercados.
Para as candidaturas dos EUA à sede da Olimpíada de 2024 e da Copa de 2026, a vitória de Trump pode afastar votos. As declarações preconceituosas contra islâmicos, imigrantes e mulheres vão de encontro à estratégia do COI de integração de povos, multiculturalismo e igualdade de gênero.
Tal ação pôde ser vista no Rio 2016, primeira Olimpíada com mulheres em todas as delegações e um time de refugiados, chamando a atenção para os problemas humanitários.
Mesmo entusiasta do esporte, Trump pode ser fator decisivo para um novo fracasso das candidaturas de seu país. Com a crise gerada pelos altos investimentos na organização dos megaeventos esportivos, talvez tal fiasco nem seja tão ruim assim para a maior potência econômica do planeta.