Análise: Volta do Brasileiro é choque de realidade

Não tivemos nem tempo de curtir aquela ressaca após a Copa do Mundo. No dia seguinte à vitória francesa na Rússia, um rato já nos dava o aperitivo do que nos aguarda na realidade brasileira do futebol.

Veio a quarta-feira e já começamos a nem lembrar de Mbappé, da geração belga, Modric, Cavani, Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar e cia. Afinal, a volta do Brasileirão nos lembrou outra peculiaridade do mercado nacional. Temos dez jogos por rodada do principal torneio nacional e o que fazemos? Bora lá colocar quatro partidas no mesmo dia e horário, que é para ninguém ver o campeonato, mas só o seu time.

No final de semana, o choque de realidade pós-Copa ficou completo. Dá-lhe domínio de bola com a mão do corintiano Jonathas, e um gol que facilmente o VAR anularia. Pior ainda foi o atacante respondendo ao questionamento do repórter após a partida se ele havia dominado a bola com a mão. “Foi gol, não foi?”. 

Entre o rato indecente de São Januário, que diga-se de passagem é uma praga que acomete até mesmo o elegante tapete verde de Old Trafford, em Manchester, ou o jeito malandro de Jonathas, não temos muito o que fazer. É questão de educação.

O duro é ter de aguentar a falta de preparo do Brasil em organizar um evento.

Já fizemos uma Copa do Mundo há quatro anos. Acabamos de vivenciar outra. E continuamos a adotar, na organização do futebol brasileiro, o modelo de 25 anos atrás, quando a TV precisava do esporte para ganhar do sushi erótico na audiência.

Não temos um Campeonato Brasileiro que seja de fato nacional. O Brasileirão é regionalizado, por conta do medo da TV em perder audiência. Assim, os jogos são distribuídos conforme o interesse dos principais mercados. Na quarta-feira, o torcedor teve quatro dos dez jogos da rodada acontecendo simultaneamente. Ou seja, 40% da rodada foi vista apenas uma vez pelo torcedor que quer acompanhar a competição. No domingo, esse número subiu para 50%, com metade da rodada às 16h.

Esse simples fato mostra o quão despreparados estamos para melhorar nosso produto. O próprio futebol boicota a sua promoção e divulgação. Imagine você dizer a um patrocinador que o alcance de mídia que ele poderia ter com o evento é 40% ou 50% menor graças à divisão de jogos que a televisão manda fazer na tabela.

Como criar uma cultura de interesse na competição se o torcedor é privado de acompanhá-la no meio mais eficiente de divulgação de um evento, que é a TV? A realidade pós-Copa é bem mais dura que um rato desfilando por um gramado.

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