Após dois anos, Parque Olímpico de Londres permanece em transformação

Transformar o investimento na estrutura olímpica em algo positivo e lucrativo para a cidade tem sido o grande desafio das sedes dos Jogos nas últimas décadas. Com Londres, isso não é diferente. E, dois anos após o evento de 2012, o Parque Olímpico permanece em mutação para concretizar o sonhado legado.

A Máquina do Esporte esteve no Queen Elizabeth Olympic Park para acompanhar a evolução do complexo da zona leste londrina, local que há poucos anos abrigava uma região pobre da capital britânica, com terrenos baldios e fábricas abandonadas.

O contínuo processo de adequação do Parque Olímpico permanece custoso à prefeitura de Londres. Para os Jogos Olímpicos, foram gastos cerca de R$ 30 bilhões. No primeiro ano de reformas da região, entre 2012 e 2013, foram mais R$ 1 bilhão para deixar o espaço amigável à população.

O governo britânico alega que com a infraestrutura a zona leste de Londres terá um complexo de lazer quase tão grande quanto o Hyde Park. A expectativa é que o parque receba 9 milhões de visitantes ao ano a partir de 2016.

Em uma manhã de quarta-feira, data da visita da Máquina do Esporte, o cenário ainda é bastante deserto, longe da movimentação da área turística do Tâmisa. Na verdade, os Jogos Olímpicos se encerraram em 2012, mas o parque olímpico ainda é uma novidade para os ingleses.

A reabertura de boa parte do complexo só aconteceu em abril deste ano. O norte do parque olímpico foi aberto em 2013, e, agora, há o acesso à parte sul, que inclui o centro de tênis, o velódromo, o parque aquático entre outros.

A ideia é tornar a estrutura acessível à população, com oportunidade de uso gratuito da piscina, por exemplo. O complexo aquático é simbólico de como a estrutura será reaproveitada. Todo o material foi adaptado para que as água possam ser usadas pela comunidade local e pelas escolas. As arquibancadas que abrigaram 17 mil pessoas foram desmontadas. Hoje, o local pode receber 2,5 mil pessoas em eventos profissionais ou amadores.

Aos olhos estrangeiros, o fator positivo é a razoável conservação, com área comercial e transporte em abundância. Há a clara impressão de distanciamento do abandono ocorrido nos parques olímpicos de Pequim, de Atenas e até mesmo de Sidney.

Ainda assim, o local ainda espera por muitas mudanças. A principal é o estádio olímpico, futura casa do West Ham, que só deve reabrir no próximo ano. O time pagará cerca de R$ 10 milhões ao ano para usar o local, em um contrato de concessão válido por 99 anos. A arena é um símbolo de abundância gasta nos Jogos, com valores que passam dos R$ 2 bilhões considerando a construção e reforma da nova estrutura.

Outro ponto importante do Parque Olímpico é o Centro de Imprensa, que deverá abrigar a Here East, que reúne empresas “start-ups”, de tecnologia. O novo complexo empresarial na região deverá gerar mais de 7 mil empregos, fundamentais para a política de moradia ao redor do complexo.

Entre outros projetos, há ainda a instalação de um centro para mil alunos de pós-graduação da Loughborough University para os próximos anos.

Toda a infraestrutura deve servir as 30 mil pessoas que irão morar nos novos apartamentos da região, muitos deles oriundos da Vila Olímpia. Parte dos imóveis já foi vendida, mas as entregas devem se perpetuar pelos próximos anos.

O esforço de Londres para fazer com que a região prospere vem de maus exemplos dados nos últimos anos. O pior deles certamente vem de outro país da Europa, a Grécia, que teve sérios problemas financeiros com a realização dos Jogos de 2004. Em forte crise na última década, o parque olímpico da cidade tem cena de destruição atualmente, com os instrumentos esportivos completamente abandonados.

E nenhum exemplo é perfeito, nem mesmo Barcelona. A cidade espanhola é frequentemente citada como caso mais bem sucedido nas últimas edições dos Jogos Olímpicos. Desde que foi escolhido para receber os jogos de 1992, o local se transformou completamente. A reconstrução da faixa do Mediterrâneo e as paisagens da cidade no alto do Montjuic, onde fica o parque olímpico, com vista para a Sagrada Família de Gaudí, tornaram Barcelona uma parada turística obrigatória. Os jogos mudaram o status da região.

Ainda assim, ela não esteve longe de críticas. A especulação imobiliária na cidade fez subir em mais de 100% os preços dos imóveis antes dos Jogos e mudou a configuração social da cidade. Até hoje, pichações na vila olímpica lembram o despejo realizado aos mais pobres.

Londres não deixou de ter cenário semelhante. Antes do Parque Olímpico, a região era abrigada basicamente por imigrantes em busca de aluguel mais barato.

O fato é que há um enorme esforço em Londres para que os bilhões investidos não tenham sido para apenas 20 dias de festa em 2012. Se o planejamento dará certo, será necessário um pouco mais de tempo para ter certeza. Infelizmente para o Rio de Janeiro, fórmula exata para o sucesso ainda não existe.

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