Brasil mira África e se distancia de exemplos em segurança

O Ministério da Justiça do Brasil enviou comitiva à África do Sul neste ano para acompanhar o esquema de segurança da Copa do Mundo de futebol e identificar pontos que o país precisa aprimorar até a próxima edição do evento. A análise de um torneio em que esse foi um dos principais pontos de crise, contudo, escancarou a diferença entre a preocupação brasileira com esse tema e o interesse que ele despertou em competições esportivas de grande porte na história recente.

A comparação ficou clara na última segunda-feira, em palestra promovida em São Paulo pelo World Trade Center (WTC). O conjunto empresarial convidou Penny Ballem, city manager de Vancouver, cidade que organizou neste ano os Jogos Olímpicos de inverno. Ela discursou sobre diversos pontos referentes à estrutura do evento, mas demonstrou atenção especial quando abordou o esquema de segurança.

Vancouver contratou 15 mil profissionais para trabalhar na segurança dos Jogos Olímpicos. Houve um investimento de US$ 1 bilhão nesse segmento, o segundo que mais consumiu recursos na preparação da cidade para o evento.

“Hoje em dia, você gasta com segurança quase tanto quanto investe em estrutura para uma competição desse porte. Passamos anos planejando e pensando em todas as possibilidades para que tudo acontecesse sem problemas”, explicou Ballem.

Ainda não existe um orçamento definitivo sobre os Jogos Olímpicos de inverno deste ano, mas estima-se que o custo tenha oscilado entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões. O investimento total da cidade para o evento foi de US$ 670 milhões.

A preocupação de Vancouver com segurança justifica-se pela proximidade do Canadá com os Estados Unidos e pela participação do país em conflitos mundiais recentes. “Existia uma ameaça de ações terroristas, e nós precisávamos ter um esquema para impedir que isso atrapalhasse o andamento dos Jogos”, completou Ballem.

O temor de Vancouver sobre esse assunto é bem diferente da postura brasileira. O país que sediará a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de verão de 2016 (no Rio de Janeiro) terá poucas mudanças estruturais nesse segmento.

“Nós vamos tirar de letra, e isso eu posso garantir. Temos uma experiência enorme com grandes eventos, como o Carnaval. Enviamos consultores para ajudar a polícia na Copa do Mundo, por exemplo”, relatou Rafael Thomaz Favetti, vice-ministro da Justiça, líder da comitiva que foi à África do Sul.

A principal necessidade que o grupo detectou a partir da comparação com a Copa do Mundo de 2010 é o comando unificado para a segurança, formato também adotado em Vancouver. Até 2014, o Brasil deve mudar legislação e lista de atribuições de suas polícias para estabelecer uma só diretriz para os eventos.

Essa proposta, aliás, já causa problemas políticos para os setores de segurança no Brasil. O país tem entidades autônomas no segmento, e cada uma responde a um comando diferente.

Com exceção da discussão sobre comando único, o Brasil deve manter a estrutura usada em eventos de grande porte já realizados no país. A base para isso é o relatório produzido na África do Sul, país que teve muitos problemas com segurança durante a Copa do Mundo de 2010.

A sede do torneio de futebol deste ano havia contratado uma empresa privada para fazer a segurança interna nos estádios, mas os funcionários dessa companhia entraram em greve no início da Copa do Mundo. Isso obrigou a organização a recorrer a policiais militares armados, medida que a Fifa não costuma avalizar.

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