Cielo e maiô dividem ?futuro? da natação

O triunfo duplo de César Cielo no Mundial dos Esportes Aquáticos, em Roma, pode turbinar a popularidade da natação no cenário esportivo brasileiro. O feito, que deveria ser amplamente comemorado pelo mercado, é ofuscado pela sensação de que o fim da era dos maiôs tecnológicos pode pôr em dúvida esse panorama. Segundo a SportTrack,empresa que realiza pesquisa sobre os hábitos de consumo esportivo, a natação é a terceira modalidade em termos de preferência para os brasileiros. O resultado, obviamente, reflete o crescimento do país no esporte, com destaque para César Cielo, campeão olímpico nos 50m livre e mundial nos 50m e 100m livre. A conta também deve incluir fatores externos como o potencial midiático de Michael Phelps e a profusão de recordes mundiais quebrados. A avaliação dos especialistas, no entanto, é que este último quesito não deve ser mais levado em consideração. Por determinação da Federação Internacional de Esportes Aquáticos (Fina, em francês), trajes tecnológicos como o LZR Racer, da Speedo, e os mais recentes Jaked01 e Arena X-Glide, estão banidos a partir de 2010. Com o retorno das sungas e maiôs simples às piscinas, as marcas devem ficar estagnadas durante algum tempo. ?Desde Pequim a gente via os maiôs tecnológicos e pode ver que a evolução da Olimpíada para o Mundial foi muito grande. Houve uma evolução no treinamento. Se o atleta não estiver bem preparado não vai bater recorde. Pode demorar um tempo, mas eles vão ser batidos?, disse Marco Veiga, técnico da equipe do Pinheiros. Agora, especialistas europeus entendem que esse período de ?estiagem? pode reduzir o potencial midiático da natação. Sem tanto espaço na televisão, o esporte perderia terreno para outras modalidades, afastando o interesse das marcas (principalmente as de material esportivo) das piscinas. ?Se não existe show, não existe negócio. Não devemos esquecer de que a competição não se restringe ao esporte. Mas a modalidade, neste caso a natação, disputa espectadores e cotas televisivas com outras, como tênis, vôlei e basquete?, disse Lluís Martínez-Ribes, professor espanhol de marketing esportivo, ao site ?Expansión.com?. Essa tese contraria a previsão da Sport Track, que prevê um futuro promissor para a natação graças ao sucesso de César Cielo. ?Para a imagem dele, não só o bom desempenho, mas também a postura, a atitude e a determinação de campeão podem gerar atributos para os patrocinadores, atributos que os executivos querem ver colados às suas marcas?, disse Rafael Plastina, sócio-diretor da empresa. A celeuma sobre os recordes, segundo os brasileiros, só ganhou a proporção atual devido à cobertura da imprensa, que tratou os trajes como vilões. Além disso, ainda há a expectativa de que as marcas continuem sendo batidas mesmo com as roupas tradicionais. “Hoje a grande discussão é o tal doping do maiô. Não quebrar o recorde é uma expectativa normal no esporte. Nós temos de lembrar que os limites estão sendo atingidos. Com a saída dos maiôs a dificuldade vai ser muito maior, mas ainda assim eles podem ser quebrados”, disse Georgios Hatzidakis, sócio da agência Olimpia Sports e um estudioso do marketing esportivo.

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