O torcedor de futebol mais apaixonado costuma ter um grande medo quando tem um filho: que ele não torça pelo seu clube. Com as novas opções de compra, a criança termina vestindo um uniforme completo, mesmo quando ainda mal tem capacidade para identificar a cor que o cobre. Nos últimos meses, essa luta tem ganhado uma forte aliança dos departamentos de marketing de times brasileiros, cada vez mais preocupado com o público infantil.
Na última semana, a situação ficou escancarada por uma das maiores rivalidades do futebol nacional. O Grêmio Toons, site que conta a história do clube com linguagem direcionada para público infantil entre 6 e 12 anos, foi lançado como o “primeiro site exclusivo para crianças” entre clubes brasileiros.
A resposta veio imediatamente, com a pronunciação do rival Internacional, que possui o Inter Kids desde o início do ano. “O site de um clube de futebol de Porto Alegre veiculou notícia na qual afirma, incorretamente, que será o primeiro do país a possuir um site exclusivo para crianças”, respondeu oficialmente a diretoria colorada.
Por trás das provocações dos dois departamentos de marketing está a preocupação real com o público infantil, algo que não era uma realidade há poucos anos. Em 2010, Inter e Grêmio não estiveram sozinhos nesse caminho, que incluiu clubes como Atlético Paranaense, Santos, Corinthians e Botafogo.
O atual diretor-executivo de marketing do Grêmio, Paulo Cesar Verardi, chegou ao clube há poucos dias e recebeu da antiga diretoria o novo projeto para os mais jovens, entregue na última semana da gestão anterior. O diretor, no entanto, sabe bem a import”ncia das crianças. Em seu último clube, o Atlético Paranaense, ele esteve atrás da personagem Furacãozinho, nova mascote do time para o público infantil.
Verardi ressalta que, para atingir a atual geração é preciso trabalhar com as novas mídias. “Tem que ter ações específicas, pois se trata de um público exigente e antenado. Temos que falar em produtos e em tecnologia, mas com uma adequação ao que é feito normalmente”, afirmou.
O site infantil, plataforma adotada tanto pelo Grêmio quanto pelo Inter, encaixa-se nessa proposta em que o mais relevante é a comunicação, o que inclui a linguagem e o meio. Apesar da import”ncia da fidelização do jovem torcedor e já consumidor, Verardi é taxativo ao comentar as ações para esse público: “Não é um trabalho simples. Tem que se entender, por exemplo, que hoje a prática do futebol se divide entre o campo e o game”.
Trabalhoso, mas recompensador. É assim que o Santos tem visto suas ações com as crianças. O clube adotou medidas parecidas com aquelas apresentadas pelos seus rivais do sul brasileiro. O Baleinha e Baleião tem site, jogos, “lojinha” e uma personagem carismática. Mas esse será apenas o começo de um plano maior do marketing santista.
Em 2011, o clube terá novidades que focam exclusivamente os mais jovens. Uma delas inclui a possibilidade de a Vila Belmiro ter um espaço reservado para as crianças, que poderão assistir aos jogos com o suporte e a interação necessária para fazer dessa experiência um momento ainda mais especial. Na revista do clube, já na próxima edição, uma parte será reservada aos quadrinhos, com novas personagens que deverão contar um pouco da história do clube com a linguagem apropriada.
Para o gerente de marketing do Santos, Armênio Neto, o público infantil tem sido uma das principais prioridades do seu setor, mas não é só por isso que o aumento de investimentos e ações para os mais jovens tem sido crescente. “Para ampliar o impacto nas crianças, precisamos criar um conjunto de fatores”, afirmou o gerente santista.
Uma das prioridades santistas tem sido o resgate dos torcedores mais novos, mas isso também não é uma exclusividade do clube. Outro alvinegro, com um passado tão rico quanto o do Santos em termos de ídolos, tem colocado as suas principais atrações do marketing para os torcedores mirins. O Botafogo quer sua torcida jovem e crescente.
Liderado pelo diretor de marketing Marcelo Magalhães, o Botafogo passou 2010 em um processo constante de reconstrução de sua marca. “A imagem do Botafogo envelheceu. Precisamos rejuvelhecer os torcedores”, determinou o diretor, baseado em pesquisas que indicavam o envelhecimento do clube, tanto em sua imagem como em seus torcedores.
Para atingir os objetivos, uma série de ações foram realizadas pensadas para o público que está na faixa de idade entre os 8 e 11 anos. Seguro na figura de Loco Abreu, o carismático atacante uruguaio que fez sucesso em 2010, uma série de produtos foram lançados para as crianças. Bonecos, cards e camisas fizeram parte das compras dos botafoguenses neste ano.
A tendência é que as ações com o público infantil cresçam ainda mais em 2010. Os clubes que não seguirem as ações ficarão atrás de seus rivais, que cativam as crianças com personagens e jogos, e lucram com produtos e bilheteria. Para os pais, as iniciativas são um grande alívio. Apesar do aumento do gasto em produtos licenciados, hoje está mais fácil convencer o filho a compartilhar a sua mesma paixão.