Desestruturada, arte marcial sofre com falta de patrocínio

No próximo fim de semana, entre 28 de agosto e 4 de setembro, começa em Beijing, na China, o Combat Games 2010. A competição é organizada pela SportAccord, agência especializada em organizar eventos de nicho, como Jogos da Juventude e Jogos Aquáticos. Nesse caso, o torneio é composto por 13 artes marciais. O Brasil irá enviar atletas em várias modalidades, mas peca pela falta de profissionalização.

Atualmente, a única luta que se destaca pela organização no país é o judô. Com patrocínios de empresas como Infraero e Bradesco e apoio financeiro governamental, por meio da Lei de Piva, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) arrecada cerca de R$ 8,6 milhões. O esporte acumula transmissões em canais abertos e fechados e possui diretoria de marketing estruturada e ativa.

A entidade não irá enviar atletas para o Combat Games, mas não vê esse detalhe como sinal de enfraquecimento. “Nosso foco são competições que pontuam para o ranking olímpico”, explica o diretor de marketing da CBJ, Maurício Santos, à Máquina do Esporte. “Nossos lutadores vão para desafios, Mundial, Copa e grand slam. Fora disso, participamos eventualmente para atender demanda técnica”.

O judô, porém, é apenas uma das artes marciais que compõem o Combat Games. Outras, conhecidas pela população ou não, irão enviar atletas para o torneio, mas carecem de estrutura profissional para captar recursos, atrair novos atletas e fortalecer imagem perante a sociedade.

Até o boxe, responsável por criar alguns ídolos brasileiros como Maguila e Acelino “Popó” Freitas, encontra dificuldades no momento de negociar patrocínios fixos. A Confederação Brasileira de Boxe possui parcerias com América Artigos Esportivos, Peter Food e Fisio Quality por fornecimento de material, suplemento alimentar e suporte médico, respectivamente, e recebe recursos por meio da Lei Piva.

Diferente do judô, porém, a entidade máxima do boxe no Brasil não possui um diretor de marketing encarregado de negociar aportes, desenvolver ações de marketing ou planejar a penetração em novos estados. “Esses assuntos são resolvidos pelo presidente, pelo vice-presidente ou por mim”, explica o supervisor nacional da confederação, Daniel Fucs.

O mesmo modelo é adotado pela Confederação Brasileira de KungFu/Wushu (CBKW), modalidade imortalizada pelo lutador e ator Bruce Lee nos cinemas. Filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e com 21 federações espalhadas por diferentes estados no Brasil, o órgão não conta com patrocinadores e tem de recorrer a parcerias pontuais para sanar necessidades.

A faculdade FEF/Unicamp cede suas dependências para o treinamento de Wushu, enquanto a Azul Linhas Aéreas fornece passagens para viagens e o Instituto Vita é responsável por consultas e tratamentos fisioterápicos. Todas as companhias, no entanto, apostam somente na seleção nacional da arte marcial e não apoiam a difusão em massa do esporte.

“Pela total falta de patrocínio, contamos apenas com o trabalho dos atletas e de seus respectivos professores para a divulgação do esporte”, lamenta Thomas Chan Hon Kit, diretor técnico geral da CBKW. “Atualmente a única opção para eles é o Programa Bolsa Atleta oferecido pelo Ministério dos Esportes, mas esse está sujeito a constantes mudanças políticas”.

Apoio governamental

O auxílio do governo não atinge todas as artes marciais. “Às vezes, ganhamos ajuda perto de Jogos Panamericanos ou Sul-americanos, mas não somos beneficiados pela Lei Piva”, revela o presidente da Confederação Brasileira de Karatê (CBK), Edgar Ferraz de Oliveira. A entidade possui diretoria de marketing estruturada, mas está com negociações por patrocínios fixos emperradas.

A maneira encontrada para manter a confederação ativa foi a cobrança de taxas de contribuição dos filiados. “Nós andamos com as próprias pernas e é muito difícil, mas superável”, completa o presidente. Aos lutadores selecionados pelo Ministério dos Esportes, segundo Oliveira, há bolsa de R$ 1,5 mil mensais, mas esse dinheiro não chega à CBK e dificulta a obtenção de recursos.

Quem vive processo de reestruturação é o muay thai. A Confederação Brasileira de Muaythai Tradicional (CBMT) elegeu nova diretoria há três meses e pretende investir em marketing para colher melhores resultados no futuro. “Temos o apoio de algumas empresas esporadicamente, mas não temos nenhum apoio financeiro de entidades”, diz Carlos Camacho, presidente da entidade.

“Apenas agora o Ministério dos Esportes acenou com a possibilidade de patrocinar a equipe do Mundial”, comenta, em referência à possibilidade de conseguir dinheiro por meio da Lei Piva. “Existem outras leis de esporte, mas são muito complicadas, complexas, e para consegui-las teríamos de ser um esporte olímpico”. De acordo com Camacho, há uma equipe jurídica empenhada no assunto.

Abandono

O sumô, aparentemente, vive a pior situação no Brasil. Enquanto outras confederações têm federações espalhadas em vários estados, apesar da falta de aportes, a Confederação Brasileira de Sumô perdeu filiados em Minas Gerais, Mato Grosso e sobrevive apenas no Rio Grande do Sul, no Pará e no Paraná.

“Tínhamos academias em São Miguel, Suzano, Santa Isabel, Taubaté, mas acabou tudo por problemas financeiros”, afirma o presidente da entidade, Issao Kagohara. Com forte sotaque oriental, o mandatário atribui à diminuição de atletas japoneses a consequente diminuição de doações para manter o órgão.

“Antigamente, tínhamos sociedade japonesa eles faziam vaquinha. Hoje, brasileiro não tem costume. Eles ficam adultos, saem da confederação e não ajudam mais”, conta. Depois de enfrentar problemas para conseguir de recursos do governo por meio de leis de incentivo, o sumô se mantém com empréstimos vindos de prefeituras, Estado e Ministério. “Temos de batalhar muito para sobreviver”, diz Kagohara.

Diferente

O caso do aikidô é mais emblemático. Nessa modalidade, curiosamente, não há duelos. O propósito de sua existência é gerar benefícios à saúde dos praticantes. “Nossa principal competição está dentro de nós mesmos, nos obstáculos, entraves e bloqueios”, explica Edgar Bull, diretor de eventos da Confederação Brasileira de Aikido e praticante do esporte.

Essa característica, na visão do diretor, faz com que o aikidô tenha potencial para angariar patrocínios, mas até hoje nenhuma parceria concreta foi firmada. “Nós fazemos seminários e tentamos captar dinheiro com inscrições”, diz Bull. “Em alguns eventos temos um pequeno custo para quem participa e, com isso, zeramos as contas”.

As confederações de kendô, taekwondo, jiu-jitsu, e kickboxing não responderam às chamadas da reportagem da Máquina do Esporte até o fechamento desta matéria. O sambô, por sua vez, não possui entidade no Brasil.

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