Doyen se expõe para mostrar credibilidade ao mercado brasileiro

A Doyen Sports, o fundo de investimentos que está por trás da transferência de Leandro Damião do Internacional para o Santos, a mais cara entre clubes brasileiros, decidiu se expor. Nélio Lucas, português que é CEO do grupo na Europa, Alfredo Garzón, advogado da Senn Ferrero Asociados, parceira global da empresa, e Renato Duprat, representante no Brasil, vieram a São Paulo com um discurso de total transparência. O real objetivo da Doyen em participar e patrocinar o 1º Fórum de Gestão Desportiva, patrocinado e sediado pelo Santander, dizem eles, é mostrar ao mercado brasileiro que o fundo de investimentos não tem nada a esconder.

Tanto na apresentação de Lucas aos participantes do fórum quanto nas falas dele na coletiva de imprensa, foram várias as vezes em que o executivo português deu ênfase à legalidade e à transparência das práticas da Doyen. São raríssimos os fundos ou investidores ligados ao futebol – brasileiros ou europeus – que arriscam se explicar à imprensa.

Há três principais motivos que geram desconfiança sobre os negócios da Doyen.

1º Novo modelo de negócios
A transferência de Damião para o Santos foi feita por meio de um modelo diferente do habitual. Normalmente, um investidor compra todo ou parte dos direitos econômicos de um atleta e o coloca para jogar com a camisa de algum time de ponta. Quando o jogador é vendido, o dinheiro vai total ou parciamente para este investidor. No caso do atacante santista, não funcionou assim. A Doyen emprestou 13 milhões de euros para o Santos, que por sua vez usou o dinheiro para pagar o Internacional. Os direitos econômicos não ficaram com o fundo, mas com o próprio Santos, que terá de devolver todo o dinheiro com juros de 10% ao ano em em três anos. A Doyen, neste caso, faz papel de banco.

Esta fórmula confundiu muita gente, porque, além de diferente, foi mal explicada no princípio da negociação. Clubes não gostam de falar sobre seus negócios, lembrou Nélio Lucas, e várias dúvidas foram levantadas. Que garantia deu o Santos para o pagamento dos 13 milhões de euros, que terá de acontecer jogue bem ou mal o Damião com a camisa santista, por exemplo? O executivo português explicou na entrevista coletiva: a cota de TV que o clube recebe da Globo será usada para quitar a dívida, em último caso. Que influência tem o fundo a respeito de uma possível venda do jogador? Segundo o CEO, zero. Quais as chances de o Santos sair do negócio com no vermelho? Afinal, se Damião não emplacar um bom futebol em três temporadadas e for vendido por pelo menos 13 milhões de euros, o time terá de pagar a conta. “Nunca ninguém perdeu dinheiro nos nossos negócios”, respondeu.

2º Sede em Malta
Outro motivo de descrédito: por que a Doyen Sports é uma empresa britânica, mas tem sede em Malta? Seria um paraíso fiscal, com legislação e fiscalização mais frouxas? Lucas nega. “Não tem nada disso. Não estamos em um paraíso fiscal”, declarou o português durante a palestra. A versão da empresa é que Malta é um país de “baixa tributação”, aprovada e aceita por praticamente todos os países do mundo, membro da União Europeia. Por isso mesmo, o departamento jurídico da Doyen decidiu estabelecer a sede lá, e não em Londres.

3º Histórico de Duprat
E, terceiro, uma razão para desconfiança genuinamente brasileira: Renato Duprat, representante do fundo no Brasil, tem um histórico conturbado. Foi ele, herdeiro da rede de hospitais Unicor, que costurou o patrocínio ao Santos no fim da década de 1990, um negócio que acabou com uma dívida da empresa com o clube, com acusações contra ele na CPI do Futebol e que o tornou em persona non grata na Vila Belmiro. Duprat também participou da vinda da MSI para o Corinthians, uma parceria que foi parar na Justiça por causa de acusações de lavagem de dinheiro. Nesta quinta e sexta, Duprat era um dos executivos da Doyen que circulava pela sede do Santander.

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