Em fases distintas, esportes vivem escassez de estrelas

Futsal vive dependência a Falcão e iminência da aposentadoria do ídolo

Futsal vive dependência a Falcão e iminência da aposentadoria do ídolo

A apresentação do patrocínio da Chevrolet à Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), realizada em São Paulo, na sede da General Motors (GM), revelou curiosidade relevante para o futuro da modalidade no país. As camisas da seleção brasileira distribuídas a todos os jogadores e convidados carregavam apenas um nome: Falcão.

A carreira do atleta, atualmente com 34 anos de idade, começou em 1991, ao defender a equipe de futsal do Guapira, clube da zona norte de São Paulo. Desde então, conquistou títulos, ocupou artilharias e recebeu prêmios de naturezas variadas. Principal jogador brasileiro, Falcão se destaca exatamente por superar a qualidade técnica.

Enquanto a WiseUp escolheu Rodrigo Santoro para a função de garoto-propaganda, a Lexical, escola de idiomas do mesmo grupo, optou pelo jogador de futsal para representá-la. O potencial para a publicidade encontrado pela empresa rendeu a Falcão sete patrocínios, dentre eles de Banco do Brasil, Correios e Umbro.

Em entrevista à Máquina do Esporte, o jogador argumenta que atletas precisam se esforçar para aparecer na mídia, de modo que possam atingir o status de “ídolo”. “Muitos atletas aparecem cinco ou seis vezes por ano na televisão, por causa dos jogos, e acham que é suficiente”, conta. “É preciso se esforçar para aparecer mais”.

Esse papel desempenhado fora das quadras é saudável não apenas para a carreira do atleta, mas para o próprio esporte. “No desenvolvimento de qualquer marca, um ponto essencial é a força das estrelas”, escreveram Philip Kotler, Irving Rein e Ben Shields no livro “Marketing esportivo: a reivenção do esporte na busca de torcedores”.

Em mercado esportivo saturado, repleto de modalidades, competições e atletas, segundo os escritores, faz-se necessária a criação de ídolos para que exista conexão entre esporte e torcedores, que têm à disposição gama excessiva de opções nesse segmento. “Fracassar na consolidação de estrelas é algo inadmissível”, apontam.

O futsal, porém, tem enfrentado muita dificuldade para substituir o rosto de Falcão. “A falta de ídolos é um problema, e meu prazo de validade está chegando ao fim”, afirma o atleta. “O ideal seria ter vários, e não só um jogador, como é o caso hoje em dia, mas não vejo outros ídolos, nem gente com potencial para ser um”. 

Caso o futsal mantenha essa linha, depois da aposentadoria de Falcão, o cenário mais provável deve ser muito similar ao vivido pelo basquete. Durante as décadas de 1980 e 1990, a modalidade conseguiu ganhar espaço na mente dos brasileiros com astros como Oscar Schmidt, no masculino, e Paula e Hortência, no feminino.

Depois da aposentadoria desses nomes, por mais que o basquete brasileiro tenha conseguido emplacar nomes na NBA, liga norte-americana de basquete e referência mundial no assunto, como Leandrinho, Nenê, Tiago Splitter e Anderson Varejão, a modalidade ainda não conseguiu encontrar substitutos para a área publicitária.

“Antigamente, apareceram jogadoras com esse perfil aqui e ali, mas foi uma coincidência, e não porque existia trabalho forte por parte da confederação”, argumenta Hortência Marcari, atualmente diretora técnica da Liga de Basquete Feminino (LBF). “Na época, não foi feito trabalho de base para aproveitar esses nomes”.

À frente da liga feminina, a ex-jogadora tem se esforçado para treinar jovens talentos não só na parte técnica, mas com preparadores físicos, nutricionistas, psicólogos e, em especial, com media training e auxílio para que aprendam a lidar com a parte financeira. “É um trabalho que vai aparecer em cinco anos”, conta Hortência.

O intuito é gerar suporte para eventual nova geração de talentos, a exemplo do que aconteceu há duas décadas. Na visão da diretora, já há figuras com potencial para se tornar ídolos no basquete feminino, mas essas meninas precisam de interc”mbio, suporte e oportunidade de desenvolver a relação com mídias.

Há, por fim, um terceiro contexto no mercado esportivo brasileiro, distinto das situações encaradas por futsal e basquete. Enquanto o primeiro vive a dependência de apenas um ídolo, somada à iminência da aposentadoria, e o segundo acumula estrelas apenas no passado, o vôlei tem abund”ncia de títulos, mas não de astros.

Embora a seleção brasileira comandada por Bernardinho tenha vencido quase todos os campeonatos que disputou na última década, apenas Giba e Giovane Gávio, além do próprio técnico, conseguiram transformar os resultados esportivos em matéria-prima para publicitários e empresas interessadas em patrociná-los.

“Existe uma sede por ídolos hoje em dia que é diferente do que era quando eu estava começando a jogar”, detalha Giovane, atual técnico do Sesi-SP, em referência ao fim da década de 1980. “Existe um apelo social muito grande, as pessoas buscam alguém iluminado para se inspirar, e é papel do gestor formar esses ídolos”.

Com o fim da carreira de Giba no vôlei se aproximando, o ex-jogador vê em Murilo Endres e Bruninho jogadores com possibilidades de ocupar o posto de astro do esporte no Brasil, mas ambos ainda enfrentam determinadas limitações. Murilo, por exemplo, é tímido. “Mas lidar com imprensa é algo que a gente aprende”, releva Giovane.

A formação de novas estrelas, tanto no vôlei quanto no futsal ou no basquete, na visão do técnico do Sesi-SP, depende diretamente do apoio dado por familiares e profissionais próximos ao jogador. À própria carreira, Giovane credita o sucesso à presença da esposa, Priscila Gávio, dona da agência Tria Sports.

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