Filme sobre Fifa, que estreia nos EUA, dá tom de farsa à história de entidade

Em momento mais impróprio, estreia nesta semana nos EUA o filme United Passions (“Paixões Unidas”), dirigido por Frédéric Auburtin, sobre a história da fundação e desenvolvimento da Fifa. A fita, encomendada e patrocinada pela própria federação de futebol, carrega nas cores e dá tom épico à fundação da entidade, construída por “três homens honestos e éticos”. Segundo o diário britânico The Guardian, a Fifa pagou 80% dos US$ 30 milhões que custou o projeto.

Ironicamente, o presidente Joseph Blatter, que renunciou ao cargo na terça-feira, não sai bem na fita que encomendou. Em cena do trailer, disponível no Youtube, uma voz em off afirma que o suíço “é muito bom para conseguir dinheiro”, durante cena em que é fechado um contrato vantajoso com a Adidas.

Tim Roth (ator de “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino) interpreta Joseph Blatter, fazendo contraponto ao idealista e terceiro presidente da entidade,  Jules Rimet, vivido por Gérard Depardieu. Rimet, criador da Copa do Mundo, liderou a Fifa por 33 anos. O papel de João Havelange, dirigente máximo do futebol por 24 anos, ficou com Sam Neil (“Parque dos Dinossauros”).

O filme foi aplaudido em sua exibição no Festival de Cannes, apesar de não ter conseguido grandes contratos internacionais e não tem estreia prevista para o Brasil. Nos Estados Unidos, terra em que outras modalidades despertam maior interesse, o filme ganhou repercussão inusitada após operação do FBI que prendeu sete cartolas na Suíça, às vésperas do Congresso da Fifa.

Filmada para melhorar a imagem de uma entidade assolada por constantes escândalos de corrupção, “Paixões Unidas” não logra esse objetivo. Principalmente depois dos eventos de semana passada. Serve, porém, para mostrar como um grupo de idealistas criou uma organização para gerir o futebol mundial, em 1904, e como isso se transformou em um grande negócio. As crises de imagem da Fifa, porém, não aparecem em nenhuma cena.

“Fiz tudo para o bem do futebol”, afirma o Blatter em determinada cena.

Se abre mão de contar uma história bem mais complexas, “Paixões Unidas” ao menos se dá ao requinte desses momentos de humor involuntário. 

 

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