A entrada do Esporte Interativo na disputa pelos direitos de transmissão da TV paga do Brasileirão pode ter impacto na TV aberta. A avaliação é feita pela Globo, que verá, a partir de 2019, chegar ao fim uma exclusividade de mais de 20 anos na transmissão do torneio nacional na TV fechada.
É isso o que diz em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte Pedro Garcia, diretor da Globo Esportes, braço da emissora responsável pela compra de direitos de transmissão no esporte. Veja a seguir a entrevista com Garcia:
Máquina do Esporte: Por que a Globo decidiu antecipar a renovação do contrato de TV paga com os clubes? Foi uma reação à entrada do Esporte Interativo?
Pedro Garcia: Estamos discutindo e avançando em um amplo processo de negociação com os clubes bem antes de o Esporte Interativo iniciar a conversa com os clubes, tanto que já tínhamos alguns acordos renovados até 2020. Antes de falar sobre este processo, que tem uma dinâmica própria, é importante destacar que não começamos este movimento recentemente: temos uma história de relacionamento com o futebol há muitos anos e que envolve não só o torcedor apaixonado como outros parceiros importantes, como clubes, operadoras de TV e anunciantes.
Não é necessário nenhum fato externo para mantermos conversas com os clubes. Esta é uma negociação viva, permanente, em que interagimos constantemente com todos os envolvidos.
ME: Há algum impacto dessa negociação na TV paga para a TV aberta e o pay-per-view?
PG: O objetivo é criar condições para que todas as partes tenham os melhores acordos. Há naturalmente um esforço para avançar a negociação para as outras janelas (TV aberta e PPV) com independência comercial.
O fato é que o Grupo Globo e os clubes brasileiros desenvolveram um complexo e vitorioso modelo de distribuição de jogos nas diversas plataformas, referência mesmo se comparado a mercados internacionais.
Levamos jogos de alta relevância gratuitamente aos torcedores via TV aberta, sem prejuízo da plena oferta de jogos via TV fechada e pay-per-view. Ganha o torcedor, ganham os clubes, com consistência e crescimento expressivo ano a ano desde 2002.
É importante lembrar que o Campeonato Brasileiro de futebol da série A tem um número finito de jogos: são 10 por rodadas e 380 no total da temporada, divididos pelas três janelas de transmissão: TV aberta, fechada e PPV.
Qualquer alteração no número ou nas condições de exibição dos jogos em uma janela afeta as demais. O nosso objetivo é trabalhar de maneira coordenada e complementar de modo a remunerar os clubes de forma sustentável e crescente, premiando também a grande massa de torcedores brasileiros com plena cobertura da competição.
ME: Qual a relação entre a Globosat e os clubes? Ela se restringe à transmissão de jogos?
PG: Mantemos um relacionamento excelente, até porque os clubes perceberam que o nosso modelo de negociação é sério e técnico, que tem compromisso com a evolução permanente do esporte. Esse processo tem sido gratificante pela troca de ideias e, acima de tudo, desenvolvimento de uma agenda de longo prazo com os diversos clubes.
ME: Como a emissora está se preparando para 2019? Há possibilidade de dividir os direitos?
PG: Creio ser ainda um pouco cedo para responder sobre 2019. Este é o ano dos Jogos Olímpicos e todo o nosso esforço tem sido o de planejar uma série de ações para tentar oferecer uma cobertura compatível à grandeza do evento. No que diz respeito apenas à TV paga, alocaremos mais de mil profissionais nesta cobertura e abriremos 16 canais de TV mais 40 canais na Internet, num total de 56 sinais. Mas é bom relembrar que temos um histórico consistente de compartilhamento de direitos. O SporTV está sempre aberto a conversas que visam o melhor para o torcedor, desde que haja espaço e condições objetivas para isso.
ME: A negociação individual é melhor ou pior para a emissora?
PG: Somos pragmáticos; acreditamos na força das propostas que visam a sustentabilidade do negócio a todos, e, principalmente, na autonomia dos clubes para escolher uma negociação que melhor atende seus interesses.
ME: De que forma o novo modelo de divisão da cota de TV impacta no negócio do futebol?
PG: Todos os clubes se beneficiarão. O novo modelo traz uma proposta de distribuição ainda mais proporcional ao dividir uma verba significativa entre os clubes por critérios objetivos de equilíbrio (40% do total fixo), exposição (30%) e premiação (30% ), além de preservar e seguir impulsionando o modelo de comercialização de jogos em sistema PPV em modelo de divisão de receita junto aos Clubes.
ME: Estamos começando a caminhar para uma era em que o modelo de divisão de direitos de TV serão de jogos exclusivos e não eventos exclusivos?
PG: O modelo será construído a partir da confluência de forças, das circunstâncias, do evento em questão e dos interesses legítimos de cada uma das partes. Este modelo poderá permanecer assim por um tempo ou mudar de acordo com a movimentação das partes. O importante é obter o melhor resultado para o futebol brasileiro.
Por fim, gostaria de destacar, como aspectos positivos, a riqueza da discussão com os clubes e a possibilidade de endereçar um novo modelo de distribuição das verbas. Fechamos acordos de até seis anos (2019 a 24) e, tanto para os clubes quanto para um grupo de mídia, acordos de longo prazo trazem benefícios de estabilidade e viabilidade de investimento.