Inter usa Beira-Rio 2014 para vender sua gestão

O Morumbi já foi excluído. A Arena da Baixada está cada vez mais próxima de seguir o mesmo caminho. A crise das arenas brasileiras para a Copa do Mundo de 2014 isolou o Beira-Rio como único estádio privado no projeto. E isso passou a ser um grande trunfo para o Internacional, proprietário do espaço, vender internacionalmente o modelo de gestão adotado pelo clube.

O Internacional, por exemplo, tem posto de destaque no estande reservado a Porto Alegre na Casa Brasil, empreendimento montado em Johanesburgo para apresentar ao público da Copa do Mundo de 2010 os pontos positivos da próxima sede do torneio. Entre vídeos e prospectos de alguns dos principais pontos da capital gaúcha, chama atenção a quantidade de material sobre o Beira-Rio e até sobre o novo museu do time colorado.

O estande e as notícias negativas sobre as outras arenas privadas brasileiras fizeram com que a Copa do Mundo de 2010 passasse a funcionar como uma bandeira da gestão do Internacional. Tudo isso a partir de uma pergunta que se tornou comum para os dirigentes colorados que estão em Johanesburgo. Desde que o Morumbi foi alijado do torneio de 2014 e a Arena passou a ser ameaçada publicamente, representantes da equipe gaúcha começaram a ser interpelados sobre o porquê de sua situação ser tão diferente.

“O que muda é a modelagem. Nós não procuramos dinheiro público ou linhas de financiamento. Buscamos maneiras de fazer as coisas com os recursos do clube, a partir de estratégias internas. Decidimos vender o antigo estádio dos Eucaliptos, um negócio que levantará mais ou menos R$ 25 milhões, e vamos obter o restante com a venda de cem a 150 suítes de camarotes. Cada um desses espaços será negociado por um prazo de dez anos”, relatou Emídio Marques Ferreira, vice-presidente de patrimônio do Internacional.

Desde o meio do ano passado, a atual viagem para a África do Sul é a terceira de Marques Ferreira. A incumbência do dirigente colorado na excursão durante a Copa do Mundo foi fiscalizar o andamento das arenas da atual sede e criar base de comparação com as ideias que o Internacional possui para o Beira-Rio.

“Eu já conhecia as instalações, e agora vim acompanhar como as coisas funcionam durante a Copa do Mundo. Estive no [estádio] Ellis Park no jogo de estreia do Brasil [ vitória por 2 a 1 sobre a Coreia do Norte] e já posso dizer que ele é inferior ao atual estágio do Beira-Rio. Vi muitos defeitos por lá, como a falta de luz e o entorno muito escuro. Essas lições estão nos ajudando a ver coisas que precisamos e outras que não podemos fazer para 2014”, afirmou o vice-presidente.

Enquanto o Internacional compara sua estrutura a arenas usadas na Copa do Mundo deste ano, outros projetos particulares do Brasil para 2014 vivem situação bem diferente. O caso mais emblemático é o do Morumbi, que pertence ao São Paulo Futebol Clube. A diretoria enviou seis projetos para a Fifa e, segundo o comitê organizador local (COL), não conseguiu apresentar garantias financeiras a tempo.

Segundo dirigentes, o problema econômico relacionado ao Morumbi tem relação com o tamanho da necessidade, sobretudo na área externa. O penúltimo projeto apresentado à Fifa, aprovado pela entidade, consumiria R$ 636 milhões para deixar o estádio pronto para a Copa do Mundo.

Em Curitiba, com uma proposta bem mais modesta, o problema é quase tão drástico quanto a realidade vivida por São Paulo. O Atlético Paranaense também enfrenta problemas para obter recursos necessários no projeto de conclusão da Arena da Baixada, e ainda existe um imbróglio interno no clube sobre o projeto.

Autoridades locais tentam contornar o problema porque Curitiba aposta fortemente no dinheiro oriundo do PAC da Copa do Mundo para desenvolver sua área urbana. Existe até a possibilidade de o Atlético Paranaense receber ajuda pública no formato de um patrocínio, que incluiria naming rights da arena. O prazo final para definição sobre o projeto rubro-negro ou qualquer alternativa é 15 de julho.

“Nossa situação é diferente por causa do modelo escolhido e por causa da gestão do clube. Somos o sexto do mundo em número de sócios adimplentes, e isso gera uma receita muito importante”, lembrou Marques Ferreira.

Para conseguir comercializar os camarotes por dez anos, o Internacional precisou de aprovação dos conselhos do clube – o modelo antecipa receita de mandatos posteriores ao atual, recurso vetado pelo estatuto.

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