Investimento faz Qatar ser protagonista no futebol

Antes de sediar a Copa de 2022, Qatar busca chegar à elite europeia - Crédito Site oficial

Antes de sediar a Copa de 2022, Qatar busca chegar à elite europeia – Crédito Site oficial

Nesta sexta, o FC Barcelona anunciou que uma nova empresa estampará sua marca na camisa do clube a partir da próxima temporada. A marca é a Qatar Airways, companhia aérea catariana. 

O acordo faz parte de uma parceria de seis anos entre o clube catalão e o fundo Qatar Sports Investments (QSI), iniciada em 2010. Desde então, o time tem como patrocinador principal a Qatar Foundation, organização sem fins lucrativos, que a partir de julho será substituída pela companhia aérea.

O contrato com a QSI prevê o maior acordo de patrocínio do futebol mundial, com o clube recebendo mais de 28 milhões de euros anuais desde o início da relação.

Mas a atuação da QSI e de outros investidores catarianos no futebol europeu não se resume apenas ao Barcelona.

O projeto mais audacioso do grupo está na França, mais precisamente no Paris Saint Germain. O clube francês teve 70% de suas ações adquiridas pelo fundo em 2011e os outros 30% restantes em 2012. O valor total do negócio girou em torno de 100 milhões de euros. Além de investir na compra do clube, o QSI decidiu levar à frente o projeto de tornar o PSG uma das grandes potências do futebol europeu.

Como parte do plano, já investiu mais de 260 milhões de euros em jogadores e salários. Entre os nomes trazidos pelo clube está o técnico italiano Carlo Ancelotti, duas vezes campeão da Champions League com o AC Milan, assim como o astro sueco Zlatan Ibrahimovic, os argentinos Ezequiel Lavezzi e Javier Pastore, e os brasileiros Thiago Silva e Lucas.

A mais recente contratação do time resume-se, possivelmente, ao jogador mais mediático do futebol até hoje. O veterano inglês David Beckham, de 37 anos, chegou apenas no último dia da janela de transferências, 31 de janeiro, mais já espera-se que sua camisa número 32 venda mais de dois milhões de unidades.

Essa é uma amostra do patamar que os novos donos, liderados por Nasser Al-Khelaifi, querem atingir com o clube. Na última semana, o PSG divulgou a nova versão de seu escudo que será utilizada a partir da próxima temporada. Exaltando “Paris” em detrimento do bairro de “Saint Germain”, os dirigentes esperam criar a ideia de time símbolo da “Cidade Luz”, capaz de ser tão internacional quanto a cidade mais visitada do planeta.

Sem que haja muitas informações sobre a origem de seu capital, a QSI se declara uma empresa 100% privada, apesar de estar ligada diretamente à família do primeiro ministro do país.

Fundada em 2005, o fundo afirma ter o objetivo de investir em projetos rentáveis no esporte mundo afora, mas com o propósito paralelo de trazer grandes investimentos para o esporte no Qatar.

O negócio deriva diretamente do Qatar Investment Authority (algo como o Tesouro do Qatar), controlado pela família real, a Al Thani. O grupo tem posses estimadas no valor de 60 bilhões de dólares.

Além de donos de um dos maiores clube da França, o clã-real do Qatar também detém uma das principais emissoras esportivas do país. A beIN Sports, criada em 2012, e que já detém grande parte dos direitos das principais ligas europeias. A emissora faz parte do grupo de comunicações Al-Jazeera, controlado pelo Governo do Qatar e sua família real.

Donos do PSG, parceiros do Barcelona e comandantes da beIN Sports, a QSI também é dona da empresa de material esportivo Burrda, fornecedora de clubes como o Wolverhampton inglês, o Nice francês e a seleção da Bélgica. Rumores da imprensa francesa já cogitam que o próprio PSG possa passar a vestir a marca, caso a norte-americana Nike não esteja disposta a melhorar seu contrato com o clube.

Mas os investimentos não se limitam a Qatar Sports Investments. Outros braços da família real catariana também adentram aos poucos o mercado europeu de clubes.

O Málaga, da Espanha, é o maior expoente dessa nova tendência. Comprado em 2010 pelo xeique Abdullah Bin Nasser Bin Abdullah Al Ahmed Al Thani, que também é parte da família real catariana, por cerca de 36 milhões de euros, a equipe vive a melhor fase de suas história. Quarto colocado na Liga BBVA espanhola na última temporada, o time disputa por primeira vez a Uefa Champions League e vem fazendo ótima campanha: terminou a fase de grupos em primeiro lugar, à frente do poderoso AC Milan, e atualmente disputa contra o FC Porto a fase oitavas de final.

Desconhecido do mundo, o clube contou nos últimos anos com atletas conhecidos mundialmente, como Rudd van Nistelrooy, Júlio Baptista, Santi Cazorla e Javier Saviola. O uruguaio Diego Lugano é outro que chegou em janeiro, vindo, justamente, do “primo rico” francês, o PSG.

Apesar dos bons resultados, o Málaga foi punido pela Uefa ao não enquadrar-se nas recentes regras de Fair Play financeiro estipuladas pela entidade. O novo regulamento foi o método encontrado pela organização para inibir os abusos de investidores e magnatas, onde se encaixam os casos do time espanhol e do parisino. A punição suspende o Málaga da próxima competição europeia à qual se classifique, dentro de um período de quatro anos.

Com capital misterioso e alto, os investidores do Qatar são cada vez mais alvo das investigações da Uefa e da Fifa, mas não por isso deixam de seguir seus negócios, muito menos intimidam novos missionários.

Outros grandes clubes do continente têm recebido ofertas de compra por parte de grupos vindo do distante país do Oriente. A Roma, atualmente controlada por executivos norte-americanos, recebeu no último mês uma oferta de compra de parte de suas ações por meio de um investidor jordaniano de origem qatari. O negócio ainda está sendo analisado pelos controladores do clube, mas já está sob vigil”ncia da Uefa e da Federação Italiana de Futebol.

Enquanto isso, nesta semana, o Arsenal, gigante inglês, negou rumores de que haja negociações com um grupo de investidores do Qatar e dos Emirados Árabes Unidos para a compra de 66% das ações do clube, pertencentes ao também norte-americano Stan Kroenke. O valor do negócio giraria em torno de 1,75 bilhão de euros, recorde para qualquer transação de clubes da história e mostrando, uma vez mais, que os catarianos não vieram para brincar.

Afinal, o país foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 2022, a primeira a ser disputada no Oriente Médio. Escolha que está cercada de polêmica, já que no começo de 2013, a revista “France Football” denunciou um esquema de compra de votos do Qatar na Fifa, que envolveria diversos mandatários do esporte no mundo, entre eles Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, Michel Platini, presidente da Uefa, Julio Grondona, presidente da Associação Argentina de Futebol (AFA), Nicolás Leóz, presidente da Conmebol, e diversos outros dirigentes de associações de futebol em todo o mundo.

Outros nomes importantes na Fifa, como Jack Warner, de Trinidad e Tobago, e Mohammed Bin Haman, ex-presidente da Federação Asiática de Futebol, foram excluídos do quadro da organização devido a esc”ndalos de compra de votos na disputa das candidaturas pelos mundiais de 2018 e 2022.

Com uma população de apenas 1,7 milhão de habitantes, mas um PIB de US$ 182 bilhões, o Qatar apostou na força do dinheiro para assegurar a Copa de 2022, assim como tem feito em suas investidas pelos clubes europeus. Seja de maneira limpa ou suja, a missão foi cumprida, e o país tem tudo para organizar, se não a mais cara, a mais ambiciosa das Copas do Mundo.

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