Lutadores culpam entidades por falta de apoio financeiro

Medalhista de ouro no Pan de 2007, Diogo Silva ainda não tem aportes

Medalhista de ouro no Pan de 2007, Diogo Silva ainda não tem aportes

O Combat Games 2010, organizado pela agência SportAccord e com início previsto para o próximo sábado (28), irá reunir lutadores de 13 diferentes modalidades. Os lutadores brasileiros que estão a caminho da China, entretanto, sofrem com o mesmo mal que acomete confederações de artes marciais: enquanto atletas de determinadas modalidades têm patrocínio, outros, igualmente vitoriosos, carecem de recursos.

O lutador de taekwondo, Diogo Silva, é um exemplo emblemático. O rapaz, nascido em 1982, conquistou a medalha de ouro no Pan-americano de 2007, disputado no Rio de Janeiro, e a medalha de ouro no Mundial Universitário de 2009, realizado na Sérvia. Ganhou visibilidade, atenção por parte da imprensa, mas não conseguiu aportes longos para manter o ritmo de vitórias.

“O Diogo teve apoios moment”neos, como o da Ecko, mas nunca conseguiu patrocínio efetivamente”, conta o assessor do atleta, Diogo Veiga, à Máquina do Esporte. Atualmente, a única parceria que Silva possui é com o São Caetano. O clube fornece local para treinar e salário e, em contrapartida, serve como sede de torneios regionais ou abertos.

Segundo Veiga, responsável por gerir a carreira de Silva e de dois outros lutadores de taekwondo, o principal entrave para a obtenção de patrocínios é a falta de suporte de entidades representantes. “A confederação não faz o papel dela de divulgar e nos força a trabalhar de forma independente”, revela. “Chega em um momento que precisamos deles e a confederação não tem estrutura de marketing ou imprensa”.

A falta de apoio por parte da entidade, diz o assessor, impossibilita a apresentação adequada de resultados para empresas. Neste momento, Silva viaja para a China para disputar o Combat Games, mas encontra problemas novamente relacionados ao órgão. “A competição paga os gastos do atleta, mas o técnico tem de ser bancado pela confederação”, diz Veiga. “O técnico dele teve problemas com o visto e, sem suporte, só irá chegar no dia 30 e isso irá atrapalhar o desempenho do Diogo”.

A meta de Diogo Silva é conseguir novos patrocínios até o fim de 2012, mas o assessor admite que irá enfrentar dificuldades por estar praticamente no meio do ciclo olímpico, iniciado depois dos Jogos Olímpicos de Beijing, em 2008. A parceria entre o profissional e o atleta se iniciou apenas em março de 2010 e esse detalhe prejudicou a busca por aportes.

A ausência de patrocínios de empresas também dificultou a carreira de Veiga, lutador de taekwondo até 2006, quando parou, pouco antes da seletiva para o Pan-americano de 2007. À época, o assessor só pôde seguir carreira porque conseguiu auxílio de um médico, que arcou com despesas de treinamentos e viagens. “Ele foi praticamente um patrocínio para mim”, afirma em tom de gratidão.

A Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD) declarou à Máquina do Esporte que o contato teria de ser feito por e-mail, mas não respondeu às mensagens da reportagem até o fechamento desta matéria.

Oposto

A realidade encarada por judocas em relação a recursos, ainda que a certa dist”ncia do ideal, em muito se difere das outras artes marciais. A confederação, criticada pela falta de apoio no caso do taekwondo, no judô, arca com todas as despesas dos lutadores e oferece salários entre R$ 3,5 mil e R$ 15 mil de acordo com o currículo do atleta.

“Nós pagamos todos os custos, entre viagens, alimentação, treinamento, deslocamento, e subsidiamos medalhistas olímpicos e judocas que estão no ranking internacional”, determina o diretor de marketing da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Maurício Santos.

A entidade é, atualmente, a única a receber a maior parte dos recursos de iniciativa privada, com exceção ao futebol. Aproximadamente 52% da verba arrecadada são oriundos dos aportes de Bradesco, EDP, Scania, Cielo e Ticket. Os outros 48% vêm por meio da Lei Piva e de empresas estatais, como Infraero. Somados, os patrocínios geram receita de R$ 8,6 milhões.

Os atletas, individualmente, encontram dificuldades para firmar acordos longos, mas bons resultados em grandes eventos já renderam contratos a judocas. A Gol Linhas Aéreas, por exemplo, decidiu patrocinar três lutadores a partir de 2008: Tiago Camilo, Leandro Guilheiro e Mayra Aguiar. Não por acaso, os três disputam competições de judô.

Por parte de clubes, a modalidade também recebe tratamento diferenciado. O Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, oferece salário, infraestrutura e tratamento fisioterápico e psicológico para Daniel Hernandes, Leandro Guilheiro, Denilson Lourenço, Leandro Cunha e Tiago Camilo, todos judocas. Não apoia, entretanto, nenhuma outra arte marcial para fins competitivos.

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