Manobra da Ferrari pode afugentar parceiros

Após o fim do Grande Prêmio da Hungria, Felipe Massa ainda tentava superar o episódio do fim de semana anterior, quando deixou o parceiro de equipe, Fernando Alonso, ultrapassá-lo a pedido da Ferrari. “Meu campeonato definitivamente não para aqui”, declarou o piloto brasileiro após a conquista da quarta colocação – enquanto o espanhol finalizou a corrida na vice-liderança.

O brasileiro, entretanto, ainda terá de se esforçar para se livrar da imagem negativa causada pela manobra da etapa na Alemanha. “Há uma declaração do Massa em que ele diz que não gosta do Senna porque não conseguiu um autógrafo”, conta Marcelo Poyares, sócio da agência de comunicação Race. “O ídolo derrotado é ruim e uma marca está ligada a outra”.

Entretanto, pior do que a imagem de fracasso, segundo o especialista, é a sensação de trapaça atribuída pela Ferrari pela decisão de favorecer o piloto espanhol em detrimento do brasileiro. “Tenho certeza de que a atitude a prejudicou, apenas não posso dizer qual é o tamanho do prejuízo”, aponta Poyares.

A estratégia da escuderia italiana, na verdade, não é nova. Em 2002, a Ferrari já havia ordenado ao também brasileiro Rubens Barrichello que abrisse passagem para o alemão Michael Schumacher, algo proibido à época pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Esse comportamento, contudo, não é nocivo à imagem das empresas ligadas à equipe – Shell, Santander e Fiat -, segundo especialistas.

“O que pode acontecer é o patrocinador cair fora ou alguma empresa que estava negociando desistir”, afirma Rafael Plastina, diretor de marketing da Informídia Pesquisas Esportivas, empresa especializada em levantamentos sobre exposição de marca no esporte. “Empresas tendem a fugir desse tipo de problema”, completa.

Obviamente, o episódio do Grande Prêmio da Alemanha não irá afugentar patrocinadores, principalmente quando um deles, o banco Santander, se associou à Ferrari motivado pela contratação de Fernando Alonso – há alguns meses, a instituição espanhola chegou a firmar seguro aos dedos do piloto. Mas se a estratégia se tornar recorrente, irá afastar possíveis parceiros.

Ainda há a possibilidade de o arranhão na imagem da Ferrari estar restrito ao Brasil, devido à nacionalidade de Felipe Massa. “Na McLaren, já deixaram o Senna passar e naquela época ninguém achou um absurdo”, lembra Geraldo Rodrigues, presidente da empresa de marketing esportivo Reunion Sports.

Na visão do especialista em gestão desportiva, a ação é tida como negativa devido à abordagem feita pela imprensa nacional. Para Rodrigues, é natural que pilotos abram passagem para parceiros com o intuito de favorecer a própria equipe, algo explorado também em outras modalidades, como o ciclismo. “Se ele tivesse jogado um cara para fora, então seria uma atitude antidesportiva. Mas esse não é o caso”, conclui.

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