No México, viradas de mesa e nomadismo viram rotina

Querétaro foi rebaixado na tabela, mas pode permanecer na Liga MX - Crédito Site oficial

Querétaro foi rebaixado na tabela, mas pode permanecer na Liga MX – Crédito Site oficial

Localizada na região central do México, a cidade de Querétaro tem mais de 450 anos de história e um clube de futebol de mesmo nome com presente em 63 deles. Mas, para o próximo torneio mexicano, tudo indica que o clube vá deixar de lado essa tradição em busca da permanência na elite asteca.

Rebaixado no torneio Clausura, o Querétaro FC está perto de assegurar a compra do Jaguares como forma de evitar o rebaixamento da equipe. Dessa maneira, o clube ocuparia a vaga destinada à equipe de Chiapas, 13ª colocada no último campeonato. O próprio Jaguares nasceu da compra de uma franquia, o antigo Veracruz, em 2002. Há três anos, o clube foi vendido para o Grupo Salinas, que também é dono do Monarca Morelia.

Essa não seria primeira vez que se vendem vagas na elite do futebol mexicano. Em 1988, o time do Correcaminos de la UAM foi rebaixado no fim da temporada, mas permaneceu na primeira divisão no ano seguinte ao comprar a vaga do Deportivo Neza, que havia sido garantido o acesso. O Puebla utilizou a mesma manobra em 1999, dessa vez com o time da U de Curtidores.

Disputando novamente a promoção em 2013, o próprio Neza pode repetir a “façanha” de 1988. Caso não concretize a compra do Jaguares, o Querétaro considera os “Toros”, que também pertencem ao Grupo Salinas, como uma das possíveis alternativas. A outra seria o La Piedad, que também disputa o acesso. O jornal mexicano “El Economista” avalia as franquias em US$ 9 e 6 milhões, respectivamente.

“O Querétaro é de primeira divisão e buscaremos que ele continue. O que aconteceu no final de semana me deixou marcado. É uma torcida de primeira e que necessita de um clube de primeira. Estamos dispostos a ver quem oferece sua franquia para buscar comprá-la. Se temos opções de que os Gallos se mantenham na primeira, faremos até o impossível para comprar uma equipe”, disse Amado Yáñez, petroleiro e coproprietário do clube, em entrevista à ESPN.

“Dizer que os Gallos vão jogar na primeira depende de muitas coisas. O que temos combinado com o governo é lutar até o último segundo para ter uma equipe na elite. Essa é nossa ideia. Dependerá também de outras circunst”ncias para cumprir não só o nosso sonho, mas também o de milhares de torcedores que deram mostras do carinho ao time no fim de semana, com uma despedida inesquecível”, completou Yañez.

Três vezes campeão da segundona mexicana, os Gallos Blancos têm uma torcida relativamente grande e fiel, considerando que são o principal time da região. O esforço pela manutenção de um time na primeira divisão não é motivado somente por orgulho ou pelos torcedores. O lado financeiro também pesa. Comprar uma franquia chega a ser mais rentável, à longo prazo, do que arcar com um rebaixamento. E isso só motiva mais viradas de mesa como essa.

O custo médio de uma franquia pequena do Campeonato Mexicano chega a US$ 15 milhões ao ano, valor que se torna quase inalcançável para os clubes pequenos que vêm da segunda divisão. Instáveis econômica e esportivamente, as equipes se sujeitam as mudanças de sedes, de donos e de nomes, que só têm dificultado a identificação do público e colaborado para a polarização da liga.

O Necaxa, um dos principais clubes do país, sofre com o baixo público e o fraco desempenho esportivo desde sua mudança para Aguascalientes. Multicampeão nos anos 1990, hoje o time milita na segunda divisão nacional.

América, Cruz Azul, Tigres e Pumas alguns times dos mais tradicionais, têm parcerias estáveis e garantidas, além de concentrar a grande maioria do público. Sem garantias da permanência das franquias em seus municípios ou mesmo da existência delas por um longo período, torna-se mais fácil para o torcedor optar pelos grandes times do país.

As Chivas de Guadalajara, maior campeão do país com 11 títulos conta com mais de 27 milhões de fãs, estando entre as maiores torcidas do mundo. Recentemente, o clube foi avaliado pela revista “Forbes” em mais de US$ 800 milhões, à frente de Manchester City e Juventus, por exemplo.

Fuentes Téllez, dono da companhia de suplementos Omnilife e de 50% das ações do clube, pretende investir cerca de US$ 50 milhões no time no próximo ano. Carlos Slim, magnata das telecomunicações e homem mais rico do mundo, é constantemente ligado à rumores de compra do Chivas.

O próprio Slim já detém participação por meio de suas empresas em clubes como León e Santos Laguna. O último deles, criado apenas em 1990, é um exemplo da terceira e última espécie de clubes da Liga MX: além dos tradicionais e dos pequenos, existem os emergentes, nascidos de conglomerados empresariais e que têm se firmado do fim da década de 1990 para cá. Além do Santos, Monterrey e Pachuca também fazem parte do grupo, que tem representado uma ameaça para os mais “velhinhos”.

Esse tipo de franquia emergente só demostra o caráter cada vez mais comercial do futebol mexicano. O próprio torneio em si também foi reformulado em 2012, passando a ser a Liga MX: uma nova organização, uma nova marca, reformulando o sistema de negócios, de mídia e administração das equipes, ou melhor, das empresas. Mas, até o momento, sem uma organização rígida, o protótipo de um sistema de franquias, como uma MLS,NBA ou NFL, será difícil vermos o futebol mexicano sem viradas de mesa ou clubes nômades. 

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