O discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tem sido enfático: sempre que é questionado sobre as projeções de gastos para a Copa do Mundo de 2014, que será no Brasil, o dirigente rechaça comprometer o orçamento público com a reforma de estádios. Na África do Sul, em contrapartida, todas as arenas que serão usadas no Mundial têm investimento estatal. A disparidade entre a realidade de um e o discurso de outro tem como principal explicação a má impressão do Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro. A relação entre o Pan e o temor sobre a Copa do Mundo ficou clara em palestra de Caio Luiz de Carvalho, presidente da São Paulo Turismo, realizada na última terça-feira. Ele participou de um fórum organizado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing para debater o Mundial de 2014 e fez duras críticas à inflação dos gastos com o evento realizado no Rio de Janeiro. ?Nós aprovamos um orçamento inferior a R$ 400 milhões para o Pan, mas esse valor subiu muito posteriormente e passou dos R$ 3 bilhões. É claro que isso desperta um temor. Não podemos esperar mais Engenhões?, disse Carvalho em relação ao estádio João Havelange, orçado em R$ 350 milhões e alugado depois ao Botafogo por R$ 30 mil mensais. O presidente da São Paulo Turismo, que na época do lançamento da estimativa de gastos com o Pan era ministro do Esporte, usou o Engenhão como exemplo da falta de planejamento para o evento: ?A construção de um estádio para a Copa do Mundo, por exemplo, consome ao menos R$ 1,5 bilhão se contarmos todas as obras paralelas que são necessárias. Se me perguntarem se eu quero um estádio novo em São Paulo, vou dizer que sim. Mas espero que me apresentem alguém para pagar essa conta. Não podemos fazer e depois submeter o espaço a uma licitação, que sempre tem preço lá embaixo?. Há dois fatores que tornam o pensamento de Carvalho ainda mais contundente: o presidente da São Paulo Turismo admite a construção de um novo estádio em São Paulo, a despeito de a candidatura paulista ter definido o Morumbi como sua arena desde o início, e o discurso serve como crítica a outros projetos de cidades que postulam receber jogos da Copa. ?Não acredito que todas consigam fazer estádios apenas com dinheiro da iniciativa privada, como está se falando. Até onde eu sei, as candidaturas sem investimento público em estádios são de Porto Alegre, Curitiba e São Paulo. E falam de Natal, mas Natal eu não conheço. Nas outras, não sei o que pode acontecer?, ponderou o dirigente. Carvalho vislumbra para a Copa do Mundo um cenário muito parecido com o Pan: ?O orçamento era um, mas foi inflacionado e não encontrou quem pagasse a conta. Quando o evento estava perto de ser realizado, o governo precisou assumir para não passar vergonha. Isso pode acontecer também para 2014. Temos cinco anos, a maioria das obras ainda não começou e pouca coisa deve acontecer antes das eleições do ano que vem?. Em todas as palestras realizadas no fórum sobre a Copa do Mundo de 2014, o atraso nas obras de estádios que precisam ser construídos foi tema recorrente. A justificativa comum à falta de iniciativa é a indefinição da Fifa, que só vai anunciar no dia 31 de maio as 12 cidades brasileiras que receberão jogos do torneio (atualmente, 17 brigam por essa condição). A desconfiança sobre o prazo, contudo, não impediu Carvalho de projetar a construção de uma nova arena em São Paulo. ?O prefeito Gilberto Kassab tem um projeto para a criação de um espaço multiuso, focado em shows, mas não será algo do tamanho que a abertura da Copa exige. Mas repito: se aparecer alguém que pague a conta, as coisas podem acontecer?, declarou o ex-ministro, que não vê nesse discurso uma ameaça ao Morumbi: ?Acreditamos no projeto e no cronograma montado. Esse é o nosso estádio para a Copa do Mundo?.
Pan inspira controle de custos para Copa
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