Em 2012, a Livestrong, fundação que tem como objetivo auxiliar pessoas no tratamento do câncer, preparava os festejos para celebrar os 15 anos de existência da entidade, criada pelo maior ciclista da história e também vencedor do câncer, Lance Armstrong.
Exemplo de projeto social, a Livestrong havia alcançado, no ano anterior, o recorde de US$ 51 milhões em receita, graças a parcerias comerciais, doações, eventos e a venda de produtos licenciados, entre eles a pulseira amarela produzida pela Nike.
O apetrecho, aliás, era uma espécie de símbolo da história da Livestrong e de Armstrong. A cor amarela remete à camisa do líder da Volta da França, a prova que foi, desde sempre, a grande especialidade do americano. A Nike era a grande patrocinadora daquele que era, até então, um ícone de perseverança e superação.
Justamente nos 15 anos de ressurreição de Armstrong e de vida da sua fundação, o mundo caiu. O ciclista teve a farsa revelada, com a urina congelada dos tempos vitoriosos nas pistas sendo flagrada no exame antidoping. Tudo aquilo que Lance sempre ferrenhamente combateu, que eram as acusações de que se dopava, passaria de verdade absoluta a farsa manipuladora em questão de meses.
A confissão de Lance veio só em 2013, após o estrago já ter sido feito. Os 15 anos de celebração da Livestrong foram estraçalhados pelo escândalo de doping. A fundação, porém, manteve-se em pé. Na apresentação dos resultados financeiros de 2012, o então CEO da entidade, Doug Ulman, trocou os agradecimentos ao fundador por uma celebração à “comunidade”.
Claramente o objetivo era desvincular o projeto social do atleta trapaceiro. Agora, quatro anos depois, a estratégia adotada pela fundação mostra-se inócua.
Em 2014, a Livestrong encerrou o ano com o pior faturamento desde 2004, quando a icônica pulseira amarela foi criada, levando a arrecadação jamais vista em um projeto social desse porte.
Reflexo direto do escândalo envolvendo seu fundador, a Livestrong tenta se manter em pé diante de um cenário pior a cada ano. Em janeiro, a saída de Chandini Portteus do cargo de CEO da fundação deixou ainda mais claro os problemas que a Livestrong enfrenta.
Com faturamento em queda, a fundação está próxima de colocar a perder o maior legado de Lance Armstrong. O projeto social cobra, agora, o preço da trapaça do passado.