Reino Unido quer criar cota racial para técnicos e dirigentes dos clubes

Os brasileiros Willian e Oscar, em jogo do Chelsea

O Grupo de Reflexão para o Esporte (SPTT na sigla em inglês), formado por jogadores na ativa e ex-atletas, reivindica uma cota de 20% de treinadores negros ou de minorias étnicas no Reino Unido até o final da década.

Levantamento entre os 92 principais clubes do país mostra que apenas 3,4% dos técnicos não são brancos. Em cargos diretivos, esse número é ainda menor: menos de 1% dos cargos de chefia dos clubes são ocupados por minorias. Como forma de comparação, esse grupo representa 14% da população britânica e 25% dos jogadores profissionais.

Por ora, apenas Chris Powell, do Huddersfield Town, e Keith Curle, do Carlisle United, são os únicos dirigentes negros nas quatro primeiras divisões inglesas.

“É muito bom que esse debate venha acontecendo há dez anos. Mas precisa desencadear alguma ação real por parte do governo”, afirmou Jason Roberts, ex-atacante do Blackburn Rovers, um dos líderes do grupo.

Ele acredita que, se o futebol não consegue levar a questão adiante, o governo é quem deve introduzir o sistema de cotas, que já teve sucesso quando forçou as empresas a melhorar a representação feminina em cargos de chefia.

A reivindicação é apoiada por Clive Efford, do Ministério do Esporte britânico, que afirmou que o governo não pode ter receio de enfrentar o racismo nos gramados. Gordon Taylor, diretor-executivo da Associação dos Jogadores Profissionais, afirmou que as estatísticas mostram a necessidade de estabelecer uma “regra Rooney”, que garanta ao menos um candidato de minorias étnicas entre os concorrentes a um cargo de direção nos clubes.

Taylor se refere ao regulamento seguido pela NFL (liga de futebol americano), estabelecido em 2003, que levou o nome de Dan Rooney, dono do Pittsburgh Steelers, que obriga a presença de candidatos negros em cargos de diretoria. O SPTT pede uma versão da regra Rooney no futebol britânico.

Bombardeada por críticas, a liga profissional inglesa criou um grupo de trabalho para estudar a questão. Para o parlamentar Clive Betts, a FA e as ligas britânicas devem ser responsabilizadas se não conseguirem responder ao problema nos próximos três meses.

“Qualquer pessoa razoável verá que é natural seguir esse caminho [regra Rooney]. Você pode ter dirigentes negros de primeiro nível, assim como tem jogadores negros”, defende Taylor.

Após casos de racismo protagonizados por Luis Suárez e John Terry, a FA estabeleceu uma meta de 10% de treinadores e árbitros vindos de minorias.

“Não se trata de dar a alguém um trabalho para o qual a pessoa não é qualificada. É apenas criar mecanismo de igualdade de oportunidade, certificando-se de que a pessoa tem capacidade para a função”, afirma Efford, rebatendo as acusações de que a regra seria inconstitucional.

Para ele, o estabelecimento de cotas poderia ser uma maneira de o esporte mostrar uma política de “discriminação positiva”. “A maioria dos esportes recebe alguma forma de verba pública e tem obrigação de trazer retorno à sociedade”, afirmou o integrante do Ministério do Esporte. 

Sair da versão mobile