Eleição presidencial superaquecida, fragmentação do interesse do público, streaming. As explicações para a queda de audiência do esporte na TV dos EUA são diversas. O fato é apenas um: há muitos anos que as emissoras não experimentavam índices tão baixos em seus principais eventos ao vivo.
O redemoinho não poupou nem a NFL, a badalada liga de futebol americano. O jogo transmitido aos domingos à noite teve queda de 10% na audiência. Já a transmissão de segunda-feira estreou com os mais baixos índices dos últimos dez anos. Às quintas-feiras, mesmo no horário nobre, a NFL viu um decréscimo de 15% no interesse do público.
Em outros eventos, a tendência é a mesma. Apesar de contar com fuso mais favorável, a Olimpíada do Rio teve queda de 10% na audiência da NBC em relação a Londres 2012.
A ESPN, por sua vez, viu sua transmissão noturna de domingo da MLB (liga de beisebol) ostentar a pior audiência média em ao menos uma década. Seis corridas da Nascar, principal categoria do automobilismo do país, disputadas entre 21 de agosto e 25 de setembro tiveram queda de mais de dois dígitos de audiência em comparação às mesmas provas de 2015.
A Fox também viu seu público minguar nos quatro últimos eventos do UFC que exibiu. Recordes negativos de audiência foram vistos nas finais do Aberto dos EUA de tênis (masculino e feminino) e até no midiático Final Four da NCAA (o campeonato universitário de basquete).
“É impossível sugerir que haja algo errado no momento, particularmente à luz do fato que estamos em um ano muito diferente em ternos de corrida presidencial prolongada. Isso tem captado a atenção dos norte-americanos. Além disso, é um ano olímpico, que teve um impacto claro durante o verão”, analisa Artie Bulgrin, vice-presidente sênior de pesquisas e análises globais da ESPN, em entrevista ao Sports Business Journal.
Na opinião dos executivos de TV, é cedo para indicar tendências, tendo em conta que alguns eventos tiveram incremento de audiência. Com as finais da NBA, a ABC conquistou seu maior público desde 1998, ano do último título do Chicago Bull de Michael Jordan. Já a NBC ostentou números positivos com a transmissão do PGA Tour de golfe.
Quem comanda as emissoras também lembra que o esporte é um dos principais ativos com a fragmentação da audiência. Em 2005, transmissões esportivas ao vivo eram responsáveis por 14 das 100 melhores audiências da TV dos EUA. Dez anos depois, 93 dos eventos top 100 foram de esporte.
“Foi a eleição. Não acho que foi muito além disso. Uma parte da atenção [do público] foi para a campanha. Parece que isso afetou todo o resto”, afirma Mike Mulvihill, vice-presidente de programação e pesquisa do Fox Sports.
Para especialistas, porém, a crescente oferta de streaming já faz a torcida migrar para dispositivos móveis. Ou seja: não é que as pessoas estejam vendo menos TV. O público assiste da mesma forma, mas em aparelhos cuja audiência ainda não é medida.
“Chegamos ao ponto de inversão. A indústria televisiva atingiu sua maturidade com a TV a cabo e agora vê a arrancada das opções de streaming”, comenta Lee Berke, consultor de mídia e CEO da LHB Esportes, Entretenimento e Mídia.
A migração, porém, não tem sido rápida. Nesta temporada, o Twitter passou a transmitir jogos da NFL. No entanto, menos de 2% da audiência total da quinta-feira à noite optou por acompanhar as partidas através de celular ou tablet.