* Atualizada às 13h29
Acabou nesta segunda-feira a passagem de Ricardo Teixeira pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade que ele presidia desde 1989. A saída do dirigente foi confirmada em carta aberta lida por José Maria Marin, sucessor do dirigente, que também abandonou o comando do comitê organizador local (COL) da Copa do Mundo de 2014.
No texto lido por Marin, Teixeira diz que vai cuidar da saúde e da família. No dia 8 de março, o presidente havia pedido licença de 30 dias da CBF por motivos médicos – ele tem histórico de problemas cardíacos e diverticulite, mas não especificou o motivo do afastamento.
“Hoje deixo definitivamente a presidência da CBF”, diz um trecho do texto de Teixeira. “Fiz nesses anos o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde”, continua a carta do dirigente.
Teixeira chegou ao comando da CBF em 1989, bancado pelo poder do então sogro João Havelange, que também presidia a Fifa. Os dois foram citados em investigação sobre a ISL, agência de marketing que foi parceira da entidade mundial e faliu em 2001.
Em meio à investigação, Havelange havia renunciado a um cargo no Comitê Olímpico Internacional (COI), instituição em que ele era o mais antigo do quadro. O brasileiro também saiu alegando problemas de saúde, mas as regras da entidade dizem que esse tipo de decisão interrompe inquéritos sobre os membros.
O processo da ISL também minou a situação de Teixeira na Fifa. O dirigente brasileiro era parte de um grupo que articulava concorrência a Joseph Blatter, atual presidente da entidade, e todos os estandartes dessa oposição perderam espaço na entidade desde o ano passado, quando o suíço foi reeleito para comandar a instituição mundial.
A limitação do poder de Havelange e a rusga com Blatter contribuíram para minar o poder de Teixeira, que já estava abalado por uma dificuldade de relação com a presidente Dilma Rousseff – ao contrário do que acontecia com Luiz Inácio Lula da Silva, com quem o ex-presidente da CBF tinha relacionamento próximo.
A falta de abertura com o governo federal e um cenário de pressão externa criaram o pior cenário da história para Ricardo Teixeira. O ex-presidente da CBF já havia passado por duas comissões parlamentares de inquérito (CPIs).
Em 2008, Teixeira articulou mudança no estatuto da CBF e aumentou de três para sete anos a extensão de seu mandato. Ele tinha permanência no comando da entidade assegurada até o fim de 2015.
No mesmo ano, em Brasília, Brasil e Portugal realizaram amistoso que contribuiu para o cenário ruim de Teixeira. O Ministério Público acusa a Ailanto Marketing Esportivo, ligada ao dirigente, de uma fraude no contrato de R$ 9 milhões para realização do jogo.
A Ailanto tinha como sócios o presidente do Barcelona, Sandro Rosell, e a brasileira Vanessa Almeida Precht. Neste ano, reportagens do jornal “Folha de S.Paulo” mostraram que a empresa tinha sede em uma fazenda de Ricardo Teixeira e ele teria recebido vários depósitos de cheques de Almeida Precht.
Por tudo isso, dirigentes e presidentes de federações já tratavam como iminente a queda de Teixeira. Contudo, os rumores em torno disso diminuíram quando o dirigente pediu licença médica de 30 dias.
Futuro começa com explicação e gafe
O cargo de Ricardo Teixeira será ocupado por José Maria Marin, 79, o mais antigo entre os cinco vices da CBF. Ele comandará a entidade até 2015, término do mandato, e também herdará a presidência do COL.
Nesta segunda-feira, na primeira entrevista coletiva como presidente das duas entidades, Marin prometeu um trabalho de continuidade em relação ao que era feito por Teixeira. O novo mandatário também fez uma explicação e cometeu uma gafe.
A explicação deve-se a um caso ocorrido na Copa São Paulo de futebol júnior deste ano. Após a decisão em que o Corinthians conquistou o título, Marin foi flagrado por uma c”mera da TV Bandeirantes enquanto embolsava uma medalha.
O goleiro do Corinthians no certame, Matheus Caldeira, ficou sem o artefato. No entanto, a Federação Paulista de Futebol (FPF) defendeu Marin e disse que ele estava autorizado a ficar com a láurea.
Nesta segunda-feira, Marin usou Marco Polo del Nero, presidente da FPF e responsável pela indicação do novo presidente à CBF, para ratificar a explicação sobre o caso. Del Nero, aliás, é o dirigente mais fortalecido com a ascensão de Marin.
A primeira entrevista de Marin como presidente da CBF também foi marcada por uma gafe. Questionado sobre o COL, ele disse que assumiria a entidade “ao lado de um grande ex-jogador, o Romário”. Depois, o dirigente corrigiu-se e disse que o companheiro dele será Ronaldo.
Histórico de Teixeira tem lucro, títulos e denúncias
“Futebol em nosso país é associado a duas imagens: talento e desorganização”. A frase está na carta de Teixeira que foi lida nesta segunda-feira por José Maria Marin, e isso explica em parte a trajetória do ex-presidente da CBF.
Teixeira chegou ao comando da CBF em 1989, aos 41 anos, e escolheu Sebastião Lazaroni para comandar a seleção brasileira. Meses depois, Eurico Miranda, então diretor de futebol da entidade, anunciou lista de convocados para as Eliminatórias da Copa do Mundo do ano seguinte e causou a primeira polêmica do novo mandatário.
O grupo era formado por 39 atletas, e dez deles tinham contrato com o empresário Juan Figger. Isso gerou denúncias e acusações de favorecimento.
Em 1991, Teixeira antecipou a eleição da CBF que estava marcada para o ano seguinte, foi candidato único e assegurou permanência no cargo até 1996. A manobra foi contestada em Brasília.
Teixeira foi novamente reeleito em 1995, mais uma vez como candidato único. Um ano depois, o mandatário conduziu um acordo entre a CBF e a Nike, fornecedora de material esportivo da seleção brasileira até hoje.
A CBF também fechou com a Coca-Cola em 1997. Quatro anos depois, o vínculo foi rescindido para que a entidade fechasse com a Ambev, dona da marca Guaraná Antarctica.
O Campeonato Brasileiro também teve situações conturbadas na gestão de Teixeira. Em 1993, a CBF inchou o torneio nacional. A medida teve como pano de fundo a situação do Grêmio, que havia sido rebaixado em 1991 e não conseguiu promoção no ano seguinte.
No entanto, a maior crise aconteceu em 2000, um ano depois de Teixeira ter sido reeleito. O Gama conseguiu na Justiça o direito de disputar a primeira divisão nacional, mas a medida não foi aceita pela CBF. A entidade criou então a Copa João Havelange, que resgatou Fluminense, Juventude e América-MG, times que estavam alijados da elite.
Em 2001, Teixeira depôs em duas CPIs. Esteve na C”mara para falar sobre o contrato com a Nike, e no Senado ele foi interpelado por sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e apropriação indébita de recursos da CBF.
Nova polêmica de grande porte aconteceu em 2005. Naquele ano, foi deflagrado um esquema de manipulação de resultados envolvendo o Campeonato Brasileiro. O torneio chegou a ter 11 partidas remarcadas.
Teixeira foi reeleito mais uma vez em 2007, com mandato até 2012. No mesmo ano, o Brasil foi candidato único e recebeu da Fifa o direito de organizar a Copa do Mundo de 2014.
No lado positivo, a gestão de Teixeira também foi marcante. No período em que ele comandou a CBF, a seleção brasileira conquistou duas Copas do Mundo. Também voltou a vencer a Copa América após 40 anos e levantou pela primeira vez a taça da Copa das Confederações.
Teixeira também criou a Copa do Brasil e instituiu no Campeonato Brasileiro o sistema de pontos corridos. E catapultou o faturamento da CBF, que chegou a um superávit recorde de R$ 83 milhões em 2010.
dirigente corrigiu-se e disse que o companheiro dele será Ronaldo.