Supercopa da Itália na Arábia Saudita cria “megaimbróglio”

A decisão da Lega Serie A, entidade que organiza o futebol italiano, de levar a disputa da Supercopa da Itália para a Arábia Saudita criou um imbróglio gigante. Isso porque a emissora BeiN Sports, que pertence ao governo do Qatar, enviou duas cartas à entidade exigindo que o jogo entre Juventus e Milan seja disputado em qualquer lugar fora do território saudita, em um novo capítulo de uma história que se arrasta desde o ano passado.

O início de tudo se deu logo nos primeiros dias de disputa da Copa do Mundo da Rússia, em meados de junho de 2018. Após o encerramento das relações diplomáticas entre Qatar e Arábia Saudita, a rede de TV saudita BeoutQ começou a ser acusada pela qatariana BeIN Sports e até pela Fifa de piratear o sinal dos jogos para transmitir em território saudita. Desde então, a BeoutQ vem sendo sistematicamente acusada de ações ilegais.

E é aí que se chega à questão da Supercopa da Itália. Apenas alguns dias antes do início da Copa do Mundo e de todo esse imbróglio, a Lega Serie A havia assinado com a Arábia Saudita para receber o torneio italiano. O objetivo era atrair investidores e aumentar a receita do futebol do país europeu.

O problema é que a BeIN Sports não se conforma em ver um torneio desse porte, com dois grandes times, ser disputado em um país acusado de pirataria de sinal de transmissão. A emissora acabou de enviar uma segunda carta ao novo CEO da Lega Serie A, Luigi De Siervo, com o pedido de mudança do local da partida.

O Milan, assim como a rival Juventus, já está na Arábia Saudita para a disputa do título (Foto: Reprodução / Twitter (acmilan))

Yousef Al-Obaidly, executivo chefe da BeIN Sports, já havia escrito à entidade italiana em dezembro, em protesto contra “a pirataria em curso do canal saudita BeoutQ, que inclui a retransmissão ilegal de jogos da Serie A italiana para os quais o BeIN Sports é que detém os direitos de transmissão”.

“Esta decisão de sediar a Supercopa na Arábia Saudita tem implicações significativas para a BeIN Sports, um dos maiores investidores mundiais do futebol italiano, mas mais significativamente para o valor a longo prazo dos direitos de transmissão da Serie A italiana na nossa região e também em todo o mundo”, afirmou Al-Obaidly.

Na segunda carta, o executivo é ainda mais contundente e reforça que “a Lega Serie A está de fato apoiando o roubo ilegal de direitos de transmissão e minando o mercado de direitos esportivos globalmente”.

“O que achamos mais notável é que, desde a sua criação, a BeoutQ roubou um número significativo de jogos da Serie A italiana. Assim, em vez de projetar o futebol italiano e seus valores pelo mundo, a partida servirá apenas como uma promoção do roubo que vem sendo realizado na Arábia Saudita e o endosso de uma flagrante violação diária das normas internacionais e do estado de direito. De todos os países do mundo que a Itália poderia ter escolhido para sediar seu jogo, escolheu o único país que apoia o roubo do seu conteúdo em escala industrial e está sendo investigado pela Organização Mundial do Comércio sobre essas acusações. O que talvez seja o mais alarmante de tudo é que a entidade italiana está totalmente ciente de todo esse contexto e não faz nada”, criticou Al-Obaidly de forma veemente.

De acordo com o site “Inside World Football”, o futebol italiano parece estar ficando, ao menos por enquanto, do que chama de “lado errado” de uma ação coletiva que deverá ser emitida em breve por detentores de direitos de transmissão de futebol, inclusive a Fifa, contra a Arábia Saudita.

A publicação afirma que o tiro poderia sair pela culatra, caso a Itália permaneça em sua posição, que “parece ser motivada politicamente”. Isso porque a ideia de atrair investidores pode ter como resultado exatamente o contrário, com aqueles que detém o dinheiro decidindo ficar bem longe desse imbróglio.

O site ainda salienta que a decisão de se manter ao lado da Arábia Saudita poderá “prejudicar severamente as ambições de expansão internacional do futebol italiano, assim como a credibilidade com os parceiros”.

O jogo entre Juventus e Milan, que decidirá o novo campeão da Supercopa da Itália, está marcado para esta quarta-feira (16), às 15h30 (horário de Brasília), no estádio King Abdullah Sports City, em Jeddah, na Arábia Saudita.

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