Thiago Braz desafia o improvável e se torna campeão olímpico no salto com vara

Thiago Braz posa com seu recorde olímpico

Parecia improvável: a noite chuvosa e com ventania, a pressão de disputar uma final olímpica diante de seus torcedores, a ausência de um título importante na categoria adulta, um recordista mundial como maior adversário… Nada disso serviu de empecilho para a conquista de Thiago Braz, 22, nos Jogos do Rio, tornando-se o primeiro brasileiro campeão olímpico no salto com vara.

A prova se desenrolou como o esperado. Um a um os oponentes foram sendo eliminados. O francês Renaud Lavillenie, campeão olímpico e recordista mundial, passou a ocupar a liderança a partir de seu segundo salto, com o sarrafo a 5,85 m. Com a altura de 5,93 m, só restavam na competição o brasileiro e o francês.

Lavillenie, que havia superado a altura em sua primeira tentativa, estava de novo à frente de Thiago, que precisou de dois saltos para ultrapassar a marca. Foi quando o francês subiu o sarrafo e deu um salto perfeito em 5,98 m, marca nunca antes alcançada pelo brasileiro.

Naquele momento, Thiago tinha duas escolhas: tentar passar os 5,98 m, o que ainda assim garantiria a liderança para o francês, ou buscar a improvável marca de 6,03 m, dez centímetros acima do melhor salto da sua carreira. O brasileiro optou pelo improvável. E superou o obstáculo na segunda tentativa, passando pela primeira vez a liderar a prova, após duas falhas do adversário.

“Quando passei 5,93 m já estava satisfeito com a prata. Mas quando ele [Lavillenie] passou 5,98 m, escutei de Deus que eu teria que passar para 6,03 m. Fui conversar com meu treinador. Ele falou: ‘Passa para 6,03 m” Pensei: gente Deus está confirmando várias coisas aqui”, contou o brasileiro.

Sentindo a pressão nas costas e enfrentando a vaia da torcida brasileira, Lavillenie subiu o sarrafo para 6,08 m. Falhou novamente, dando o título ao brasileiro. O francês mostrou muita irritação com a torcida. “Nunca vi uma torcida no atletismo dos Jogos Olímpicos com esse tipo de atitude”, reclamou Lavillenie, que chegou a comparar sua situação com a de Jesse Owens, negro americano que ganhou quatro ouros nos Jogos de Berlim 1936, disputados durante o regime nazista.

“Não se pode comparar o Brasil com a Alemanha nazista. Foi um equívoco essa comparação, no calor do momento. Estava muito chateado”, desculpou-se.

Há um ano e meio, Thiago tomou decisão radical. Decidiu deixar seu antigo treinador, Elson Miranda, que o acompanhava desde a categoria de base, mudou-se com a mulher para Fórmia, na Itália, e passou a treinar com Vitaly Petrov, antigo técnico de Sergei Bubka e Yelena Isinbayeva, maiores nomes da história do salto com vara. Para o paulista da Marília, nada surpreendente.

“Todos os treinadores que passaram por mim foram importantes. Mas o Vitaly Petrov foi o mais refinado. Mudar para a Itália foi uma decisão de Deus. Eu só pus em prática”, justifica.

A conquista do paulista de Marília recoloca o Brasil no pódio do esporte-base da Olimpíada os atletas do país passaram em branco em Londres 2012. 

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