O atletismo brasileiro tem boas notícias a comemorar com a participação nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. A equipe nacional conquistou duas medalhas, com a inédita prata na marcha atlética de 20 km de Caio Bonfim e o bronze mantido de Alison dos Santos, o Piu, nos 400 m com barreiras.
O desempenho poderia ter sido ainda melhor. Bonfim chegou a liderar a disputa da marcha, mas diminuiu o ritmo após receber duas punições (na terceira seria desclassificado). No final, ficou feliz com a segunda posição, após frustrantes corridas no Rio 2016, quando terminou em quarto lugar, e em Tóquio 2020, ocasião em que não passou da 13ª posição.
Já Piu, que vinha de um bronze em Tóquio 2020, enfrentou um ciclo olímpico cheio de altos e baixos. Foi campeão dos 400 m com barreiras no Mundial de Eugene 2022, mas enfrentou lesão no ano seguinte.
Em 2024 vinha credenciado por boas participações na Liga Diamante. Ganhou a etapa de Doha, no Qatar, com 46s86, e os Bislett Games (etapa de Oslo), quando superou o então campeão olímpico e recordista mundial Karsten Warholm, que corria em casa. Piu cravou 46s63, marca que chegou a Paris como a segunda melhor do ano, atrás apenas do norte-americano Rai Benjamin.
“A avaliação foi muito positiva. Conquistamos uma prata e um bronze, fizemos quatro finais e certamente poderia ter sido ainda melhor”, comentou Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), em entrevista à Máquina do Esporte.
Ausentes
O dirigente refere-se a outras duas possibilidades de medalhas abortadas por causa de lesões de última hora. Letícia Oro Melo, medalha de bronze no salto em distância no Mundial de Eugene 2022, ficou fora das Olimpíadas após passar por cirurgia no joelho esquerdo. Ela já havia desfalcado o Time Brasil em Tóquio 2020 por causa de operação no joelho direito.
Finalmente, às vésperas dos Jogos de Paris, Darlan Romani, campeão mundial indoor em Belgrado 2022 e bicampeão pan-americano em Lima 2019 e Santiago 2023 no arremesso do peso, anunciou que não competiria em Paris devido a uma hérnia de disco que o impediria até mesmo de andar. Ele passou por uma cirurgia de emergência e ficou fora das Olimpíadas.
“Lamentavelmente o Darlan Romani e a Letícia Oro sofreram lesões próximos aos Jogos. Tinham reais chances de medalhas”, afirma Campos.
Preparação mental
Para o dirigente, a preparação mental foi importante para que o Time Brasil tivesse um bom desempenho em Paris, no comparativo com o histórico do atletismo nacional em Olimpíadas.
“Os Jogos Olímpicos exigem a excelência. Não existe margem para erro. Faz-necessário que o atleta esteja no ápice físico e também mental. Penso que uma das lições desta edição é exatamente a necessidade de absoluta atenção e cuidado com a saúde mental dos atletas”
Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da CBAt
Em Paris, o Brasil se manteve no pódio, feito que a modalidade tem conseguido há 12 anos ou três Olimpíadas seguidas. A última vez que o Time Brasil não subiu ao pódio no atletismo olímpico foi em Londres 2012.
Em Tóquio, o país havia conquistado dois bronzes, com o próprio Piu nos 400 m com barreiras e Tiago Braz no salto com vara. Punido por doping, o campeão olímpico no Rio 2016 foi outro atleta que ficou ausente dos Jogos Olímpicos.
Financiamento
Para a preparação da equipe olímpica, a CBAt contou com verbas da Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias da Caixa ao esporte olímpico e paralímpico do país. Parte da verba obtida com a lei é repassada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) às confederações. No curto ciclo olímpico pós-Tóquio (2022-2024), a CBAt recebeu R$ 22.538.777,48.
“O recursos das loterias repassados por força de lei é fundamental e estratégico para o atletismo brasileiro, porém hoje representa algo em torno de 20% da nossa receita. Para muitas confederações esse número chega a praticamente 100%.”, conta Campos.
Vem das loterias, mas não propriamente da Lei Piva, o principal financiamento às atividades da confederação. As Loterias Caixa são o principal apoiador do atletismo brasileiro.
“O patrocínio das Loterias Caixa é a energia do atletismo brasileiro, pois nos permite trabalhar da iniciação ao alto rendimento em todas as regiões do país”
Wlamir Motta Campos, presidente do Conselho de Administração da CBAt
“É também com esses recursos que realizamos eventos regionais, nacionais e internacionais, além de custear todas as viagens das nossas delegações do su 18 ao adulto. Também custeia todos os nossos programas como centrinhos, seleção permanente, competições, Ídolos do Atletismo, formação e capacitação de árbitros e treinadores, campings, entre outros”, explica o dirigente.
Atualmente, além de Loterias Caixa, a CBAt conta com mais cinco patrocinadores: Newon, Puma, Pista e Campo, PlayPiso e Max Recovery.
“Também temos termos de fomentos pontuais para realização de grandes eventos. Neste ano, firmamos com o Governo do Estado de Mato Grosso, com o Governo do Estado de Pernambuco, Prefeitura de Niterói e com o Governo do Estado da Paraíba, além do Ministério do Esporte. Esses recursos somam aproximadamente R$ 40 milhões”, contabiliza Campos.
Planejamento
Para Los Angeles 2028, a ideia da CBAt é descentralizar as possibilidades de medalha e mais modalidades. É necessário também renovar a equipe brasileira, buscando novos nomes com chance de chegar ao pódio.
“O Ciclo Olímpico 2028 já começou. A CBAt vem trabalhando juntamente com o COB no planejamento dos próximos quatro anos com atenção também na formação, pois temos muitos excelentes atletas das categorias de base com reais chances de performar em 2028”, destaca Campos.
Em boas condições físicas, Piu, de 24 anos, e Letícia, com 26, ainda podem estar competitivos nos próximos Jogos. Bonfim e Darlan, ambos com 33, terão em idade mais avançadas no próximo ciclo olímpico.
A CBAt apoia atletas e treinadores no custeio de preparação e viagens durante o ciclo olímpico. A ideia é manter o investimento, mas fazer alterações pontuais.
“Vamos reformular o programa de seleção permanente. Ele é aperfeiçoado todos os anos visando sempre a melhor eficiência. Através desse programa promovemos a transferência de recursos para atletas e treinadores através da meritocracia”, explica o presidente do Conselho de Administração da CBAt.
“Esse programa atende aproximadamente 70 atletas e 30 treinadores. Também em conjunto com o COB vamos trabalhar no PPO, que é o programa de preparação olímpica”, completa.
Parcerias
Além dos financiadores atuais, a CBAt busca novos patrocinadores para o próximo ciclo olímpico, credenciada pelo bom desempenho em Paris 2024.
“Temos vários projetos aprovados na lei de incentivo [ao esporte]. Estamos conversando com o mercado, buscando mais recurso, para fazer mais investimentos, buscando o aumento do número de praticantes de atletismo no Brasil. Por consequencia disso, a melhor performance. Da mesma forma que os atletas busca a excelência, a gente também busca”, afirma Campos.
A estratégia é continuar atraindo patrocínios privados e firmar novas parcerias com o poder público para realização de clínicas, campeonatos e fomentar a base.
“Estamos conversando com vários patrocinadores em potencial e avançando nas parcerias com governos de estado e prefeituras. Com isso, descentralizamos as competições, envolvemos o atletismo no Brasil inteiro”, espera o dirigente.
“E desoneramos nosso custeio. Ou seja, ao realizarmos competição com recusos novos, temos esse recurso para investir no atletismo como um todo. É isso o que vemos fazendo”, completa.