Houve um tempo em que atletas olímpicos eram equiparados a heróis mitológicos. Essa construção simbólica remonta à primeira metade do século passado, quando os eventos esportivos (as Olimpíadas, em especial) se converteram em grandes fenômenos de comunicação de massa. Hoje em dia, essa narrativa ainda persiste, mas, aos poucos, vai dando lugar a uma nova abordagem.
Um atleta pode fazer coisas sobre-humanas. Mas continua a ser humano, demasiado humano. Tal como já abordou anteriormente a Máquina do Esporte, Paris 2024 aparenta buscar de fato romper paradigmas nos Jogos Olímpicos da era moderna, a começar pela adoção de um modelo de infraestrutura mais sustentável em termos financeiros e ambientais, escolha que resultou na edição mais econômica do evento, nos últimos 20 anos.
Neste ano, os organizadores e as marcas patrocinadoras optaram por uma proposta mais inclusiva e humanizada, fazendo de Paris 2024 um evento que vai muito além do esporte. É óbvio que a competição está em diversos locais, ocupando ainda o espaço central nos Jogos.
Mas as iniciativas mostram que a disputa por medalhas não é o único objetivo do evento. Organizadores e marcas se deram conta de que atletas e o público são pessoas. Sofrem, sentem dor, medo e angústia. E também têm família, amigos e pessoas queridas.
Por isso mesmo, em Paris 2024 estão sendo realizadas iniciativas que abordam uma série de questões relevantes, incluindo saúde mental e maternidade. Nesta matéria, vamos conhecer melhor algumas delas.
Lavanderia
Há muitos anos, a expressão “suar a camisa” tem sido usada como sinônimo de dedicação e esforço no esporte. Na prática, os atletas olímpicos, assim como os demais seres humanos, também sujam a roupa, não apenas enquanto estão treinando e competindo.
Patrocinadora global dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a Procter & Glambe (P&G) instalou uma lavanderia em plena Vila Olímpica, na capital francesa, com uma equipe dedicada para atender aos atletas. A empresa aproveitou a iniciativa para ativar sua marca de sabão em pó Ariel.
Saúde mental
Patrocinadora do Comitê Olímpico do Brasil (COB), a farmacêutica Medley, que integra o grupo francês Sanofi, tem realizado uma série de ações, inclusive na capital francesa, voltadas à questão da saúde mental.
A marca patrocina o espaço da Saúde Mental nas duas principais bases brasileiras em Paris, na Vila Olímpica e no Château Saint-Ouen, permitindo que os atletas do Time Brasil possam cuidar da mente, em grupo ou de forma individual.
Bebês valorizados
Ao mesmo tempo em que é romantizada por diversos setores da sociedade, a maternidade costuma representar um sério desafio para as mulheres no mercado de trabalho.
No esporte de alto rendimento, a situação se torna ainda mais complexa, a começar pelo fato de que a gravidez e o puerpério (fase que se segue ao nascimento do bebê) representam um período de duração considerável, em que as atletas ficam afastadas das competições e dos treinamentos.
O próprio cuidado com os filhos, nos meses que se seguem, costuma representar um problema para mulheres que precisam viajar a diferentes lugares, constantemente.
Nos Jogos de Tóquio 2020, realizada em 2021 devido à pandemia da Covid-19, a situação das atletas mães representou uma das maiores polêmicas envolvendo o evento. Isto porque as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI) proibiam a presença de familiares nos alojamentos dos competidores. A regra se aplicava não apenas a parentes adultos, mas também a crianças, incluídos aí os bebês de colo.
A situação gerou protestos em diferentes países, até que o COI resolveu flexibilizar a regra e autorizar a ida dos bebês em fase de amamentação. A condição imposta, porém, era de que as crianças não poderiam ficar na Vila Olímpica. As mães atletas teriam de bancar, do próprio bolso, a estadia dos filhos em hotéis na capital japonesa.
Neste ano, o Comitê Olímpico Francês tornou-se o primeiro no mundo a encarar a questão das atletas que amamentam. A entidade disponibilizou quartos de hotel para as esportistas poderem alimentar os filhos, durante os Jogos.
O próprio COI também resolveu adotar, em Paris, uma postura mais acolhedora para com os bebês. Uma das principais ativações da P&G nos Jogos consiste no berçário da Vila Olímpica, criado para receber os filhos de atletas que participam da competição. O espaço é patrocinado pela marca de fraldas Pampers.
Vale lembrar que esta foi a primeira vez que uma Vila Olímpica contou com um berçário, na história dos Jogos.
Cuidar da aparência
Atletas de alto desempenho são pessoas públicas e estão sempre sob a mira das câmeras, especialmente em situações como finais olímpicas.
A Vila Olímpica de Paris 2024 conta com um salão de beleza instalado pela P&G, operando 12 horas por dia, com as presenças de barbeiros, cabeleireiros e outros profissionais.
Nesse caso, a empresa aproveitou para ativar suas marcas Pantene, Head & Shoulders, Gillete, Mielle e Braun, nos diferentes serviços oferecidos, que vão desde corte de cabelo, até penteados, barba e manicure.
Vencer nem sempre é o principal
O senso comum criou a falsa ideia de que, na vida, apenas os vencedores serão lembrados. Mas a Olimpíada mais digital de todos os tempos, em que os fotógrafos e cinegrafistas tiveram a chance de registrar momentos mágicos, comprovou que, para fazer história, nem sempre é preciso chegar ao topo.
Ao longo da competição, não foram raras as ocasiões em que as lentes dos profissionais conseguiram captar toda a beleza dos gestos humanos dos esportistas. Caso, por exemplo, da cena em que a judoca brasileira Larissa Pimenta desabou em lágrimas ao ganhar a disputa pela medalha de bronze, sendo acolhida pela rival Odette Giuffrida, que acabara de ser derrotada após cometer a terceira falta na luta.
O que dizer, então, de Gabriel Medina, que não ganhou o ouro no surfe devido à má sorte de ir para a água em um momento de mar calmo, quase sem ondas no Taiti?
Ele terminou com o bronze, mas, dias antes, havia protagonizado uma das mais lendárias imagens da história olímpica, ao ser clicado pelo fotógrafo francês Jerome Brouillet como se levitasse sobre o oceano revolto, a 30 metros de altura. No fim das contas, foi o grande nome da competição, mesmo sem alcançar o topo do pódio.
E houve vitórias no esporte que representaram conquistas muito maiores, não apenas para as pessoas diretamente envolvidas, mas para a própria humanidade.
Como no caso da brasileira Rebeca Andrade, que conquistou a medalha de ouro na ginástica de solo, derrotando a lenda Simone Biles, dos Estados Unidos, que levou a prata. A também norte-americana Jordan Chiles ficou com o bronze.
Pela primeira vez, três mulheres negras ocuparam o pódio nessa modalidade. Não por acaso, Biles e Chiles fizeram questão de reverenciar a brasileira, em mais um momento inesquecível, que demonstra que a grandeza não está apenas na primeira colocada, mas naquelas que compreendem o real significado desse fato histórico para o mundo.