Paris 2024 é a edição mais econômica dos Jogos Olímpicos em 20 anos

Ponte Alexandre III recebe as provas de triatlo em Paris 2024 - Reprodução / Instagram (@worldtriathlon)

Principal evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos de Paris 2024 dependeram de uma série de investimentos, feitos pelo poder público e a iniciativa privada. Esse dinheiro garante não apenas a instalação de estruturas para receber as competições esportivas, como também viabilizou obras de mobilidade urbana e a infraestrutura necessária para receber atletas, comissões técnicas, imprensa, público e turistas em geral.

A soma investida para que o evento pudesse sair do papel é bilionária, de fato. Mas também é verdade que Paris 2024 representa a edição mais econômica dos Jogos Olímpicos, nos últimos 20 anos.

A estimativa oficial do Tribunal de Contas da França é de que pouco menos de US$ 5,4 bilhões (algo em torno de R$ 30 bilhões, pela cotação atual) deverão ser investidos em obras para receber tanto o evento olímpico quanto os Jogos Paralímpicos de 2024, que terão início em 28 de agosto.

Os dados consolidados ainda serão auditados pelo órgão, após o término dos eventos. Considerando-se esse valor, mais a quantia investida pelo Comitê Organizador dos Jogos, o custo final de Paris 2024 deverá ficar um pouco acima dos US$ 9 bilhões (cerca de R$ 51 bilhões).

A soma pode parecer elevada, mas representa um orçamento extremamente enxuto, na comparação com outras edições do evento, especialmente quando tomamos Atenas 2004 como ponto de partida.

Berço dos Jogos Olímpicos da Antiguidade e sede da primeira edição do evento na Era Moderna, realizada em 1896, a capital da Grécia foi escolhida para receber novamente o evento em 2004.

Os investimentos feitos à época totalizaram US$ 15 bilhões. O detalhe é que o orçamento inicial previa um gasto aproximado de US$ 6 bilhões. Apenas as estruturas esportivas consumiram em torno de US$ 8,5 bilhões. Hoje, o dinheiro empregado nessa odisseia olímpica grega seria o equivalente a US$ 18 bilhões.

Menor nação a sediar a versão moderna do evento, a Grécia sentiu o peso desses gastos e mergulhou em grave crise econômica nos anos seguintes, da qual até hoje não conseguiu se recuperar.

O legado do evento também é controverso, já que diversas das estruturas permanentes construídas para os Jogos acabaram ficando sem uso, sendo que algumas, como o Estádio Olímpico (onde ocorreram as provas de atletismo), acabaram sendo interditadas, devido à falta de condições mínimas de segurança

Qual foi a edição mais cara dos Jogos Olímpicos?

Considerando-se o universo das últimas seis edições dos Jogos Olímpicos, a de Atenas está longe de ser a que custou mais caro, embora, proporcionalmente, seus impactos tenham sido mais profundos na economia no pequeno país europeu.

Mesmo Rio 2016, que, antes de ser realizado, costumava ser alvo de constantes críticas por parte da imprensa e mesmo de grupos políticos, devido aos custos das obras (questionamento que também ocorreu antes da Copa do Mundo de 2014), também não passa nem perto do posto de Olimpíada mais dispendiosa das duas últimas décadas.

País com o maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, pelo critério Paridade de Poder de Compra (PPC), a China lidera o ranking dos Jogos Olímpicos mais caros já realizados em tempos recentes.

Pequim 2008 custou, na época, a bagatela de US$ 40 bilhões. Em valores corrigidos, essa quantia alcança algo próximo a US$ 58 bilhões (R$ 333 bilhões), quantia que supera em US$ 9 bilhões todo o PIB nominal da Bolívia, que foi projetado em US$ 49 bilhões pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano.

No gráfico abaixo, você confere quanto foi gasto nas últimas seis edições dos Jogos Olímpicos, desde 2004. Lembrando que Tóquio 2020 foi realizado, na verdade, em 2021, devido à pandemia da Covid 19.

Nova era dos Jogos

Em análise publicada nesta semana, o fundador e CEO da Máquina do Esporte, Erich Beting, afirmou que Paris 2024 procurou trazer um novo conceito para a organização de uma edição olímpica.

“Paris mostrou que é possível fazer uma Olimpíada menos glamourosa, mais inclusiva e, no final das contas, bem mais racional financeiramente. Tudo isso sem abandonar a capacidade de gerar dinheiro a cada nova oportunidade e criando uma sensação de êxtase para o torcedor”, escreveu.

Esse fator apontado pelo jornalista explica a razão de a edição deste ano ser a mais barata das últimas décadas dos Jogos.

O modelo adotado pelos franceses, lembrou Beting, vai na contramão do discurso que vinha sendo apregoado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) e pelos governos dos países-sede, que buscavam destacar o suposto legado dos eventos para as populações e a economia locais.

“Até os Jogos do Rio 2016, o grande argumento que era utilizado pelo COI e pela cidade-sede era de que as Olimpíadas trariam desenvolvimento a uma área degradada. E, a partir dessa revitalização urbana, no longo prazo, o custo para abrigar os Jogos estaria pago. Foi a criação e propagação do termo ‘legado’ para gastos desenfreados em grandes eventos esportivos. O problema é que esse modelo funcionou em Barcelona 1992. De lá para cá, Sydney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016 foram Jogos deficitários para os respectivos países e, além disso, geraram um legado de transformação abaixo do prometido”, ponderou.

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