Paris vai de sonho a pesadelo para motoristas de táxi e aplicativos

Taxis têm tido dificuldade para atrair clientes em Paris - Wagner Giannella / Máquina do Esporte

Taxis têm tido dificuldade para atrair clientes em Paris - Wagner Giannella / Máquina do Esporte

O Eldorado prometido dos Jogos Olímpicos de Paris está longe de ser realidade para pelo menos uma categoria de trabalhadores na cidade-sede do evento. Motoristas de táxi e aplicativos têm se queixado de que, para eles, as Olimpíadas se transformaram mais em problema do que solução. E, agora, ameaçam até um protesto para ocorrer em meio aos Jogos.

A preocupação com a mobilidade urbana permeou boa parte das discussões pré-Olimpíada aqui em Paris. Os planos da prefeitura eram de tentar, ao máximo, garantir que os espectadores pudessem acessar com tranquilidade as áreas de competições. Para isso, foram feitas campanhas diversas para ampliar ao máximo a malha de transportes disponíveis para a população no período do evento.

Isso provocou dois fenômenos que têm atrapalhado os serviços privados de transporte. O primeiro deles é o aumento da demanda pelo serviço. Boa parte da frota de motoristas em Paris decidiu não tirar férias durante os Jogos e colocar seus carros para rodar. Isso faz com que haja muito carro disponível. Num serviço de preço dinâmico como o dos aplicativos, o custo da corrida é reduzido, diminuindo a lucratividade do motorista.

O segundo fator que tem sido uma pedra no sapato dos motoristas é a eficiência da malha metroviária de Paris. Com mais rigor na segurança para as áreas de competição, mais ruas ficam fechadas e inacessíveis para os carros. Ir de metrô, muitas vezes, é mais barato, mais rápido e até mais cômodo para o fã.

“Perdi meio dia de contrato com uma família americana na cerimônia de abertura, porque tive de deixá-los no metrô para que pudessem chegar à ponte Alexandre-III. Os poucos clientes que temos estão abandonando as corridas no meio”, afirmou ao Le Monde Ali Lemmouchi, piloto de aplicativo e delegado nacional dos Sindicatos dos Motoristas Independentes.

O segmento estima que houve uma queda de até 50% no volume de negócios para motoristas desde o início de julho. Mesmo com os Jogos começando apenas no dia 26 de julho, os preparativos para a Cerimônia de Abertura já tinham bloqueado ruas e reduzido em 185 km as áreas disponíveis para circulação de carros na cidade.

Soma-se a isso um desencontro de informações entre os policiais que fazem a segurança das áreas próximas às arenas e o caos muitas vezes faz parte da experiência de ir de carro a alguns lugares. Isso tem feito com que muitos taxistas e motoristas de aplicativos desistam de fazer determinadas corridas.

Governo tenta evitar greve geral

Para tentar aplacar os ânimos, na última quinta-feira (1º), o Ministro dos Transportes da França, Patrice Vergriete, e o chefe de polícia, Laurent Nuñez, anunciaram que os táxis e os carros de aplicativos vão poder entrar nas zonas vermelhas dos Jogos sem restrições. Segundo o comunicado, o objetivo é “facilitar a chegada e a saída de espectadores das competições”.

Mesmo assim, a queda de braço entre governo e entidades do setor continua. Na quarta-feira, 31 de julho, as cinco federações de taxistas de Paris enviaram uma carta ao Ministério dos Transportes para que o setor possa aderir à comissão de compensação dos atores econômicos, um programa lançado pelo governo francês para compensar setores que tenham sido afetados por mudanças relacionadas aos Jogos Olímpicos.

“Não há garantia de que seremos compensados, ainda é vago, serão necessários critérios muito rigorosos e a compensação só chegaria em 2025”, afirmou Brahim Ben Ali, chefe do principal sindicato, o FO-INV.

Como não poderia deixar de ser, uma das alternativas que hoje são consideradas pelos diferentes sindicatos e organizações de motoristas é de, em última instância, uma mobilização nas ruas de Paris. Em meio aos Jogos Olímpicos, isso poderia significar uma enorme bagunça, por mais que o movimento, até agora, esteja fraco.

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