A Ucrânia cogita boicotar os Jogos Olímpicos de Paris 2024. A informação foi dada por Vadym Guttsait, ministro dos esportes do país e presidente do Comitê Olímpico Nacional da Ucrânia, após a afirmação do Comitê Olímpico Internacional (COI) de que estaria trabalhando para que atletas russos e bielorrussos pudessem participar da próxima edição olímpica como neutros. Ou seja, os ucranianos pensam em deixar de competir no evento, caso russos e bielorrussos estejam presentes.
A atitude do COI vai contra uma iniciativa do próprio comitê em fevereiro de 2022, quando se deu a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. À época, a entidade aconselhou as federações esportivas internacionais a excluir os russos e bielorrussos de suas competições, algo que o presidente do COI, Thomas Bach, descreveu desde então como uma medida para proteger esses atletas.
Agora, no entanto, quase um ano depois, o comitê mudou de ideia e quer que todos os atletas sejam tratados igualmente, independentemente do passaporte que possuam. Para ilustrar o novo pensamento, divulgou que “os governos não devem decidir quais atletas podem participar de qual competição e quais atletas não podem”.
A Ucrânia decidiu rebater de forma veemente a mudança e deixou claro que todos os esforços deveriam ser feitos para que Rússia e Bielorrússia não estejam representadas de nenhum jeito na próxima edição dos Jogos Olímpicos.
“Para toda a comunidade esportiva ucraniana, esta é uma questão de princípio. Nisso, contamos com o apoio tanto do presidente do nosso Estado quanto de toda a sociedade. Parte das federações internacionais está indignada com os esforços do COI para promover o retorno de russos e bielorrussos”, afirmou Guttsait, em um comunicado compartilhado no Facebook.
“Abordamos e abordaremos todas as organizações internacionais que podem influenciar a situação e cujas opiniões os membros do COI podem ouvir. Certamente, nossas federações esportivas nacionais precisam fortalecer a comunicação com as federações internacionais para manter a proibição em vigor. Nossa posição permanece inalterada: enquanto houver uma guerra na Ucrânia, os atletas russos e bielorrussos não devem participar de competições internacionais”, completou o dirigente.
Entre os países que se mostraram contrários à nova iniciativa imaginada pelo COi está o Reino Unido que, desde o início da guerra, ofereceu apoio militar e humanitário à Ucrânia.
“Quero deixar claro que esta posição do COI está a um mundo de distância da realidade da guerra sentida pelo povo ucraniano e das próprias palavras do presidente do COI, Thomas Bach, há menos de um ano, quando ele condenou veementemente a Rússia por quebrar a Trégua Olímpica e instou-a a ‘dar uma chance à paz’”, disse Michelle Donelan, secretária de cultura do Reino Unido.
“Condenaremos veementemente qualquer ação tomada que permita ao presidente Putin legitimar sua guerra ilegal na Ucrânia, uma posição que o COI compartilhou anteriormente. Nós e muitos outros países temos sido inequívocos sobre isso e agora trabalharemos com urgência com países com ideias semelhantes para garantir que a solidariedade continue nessa questão”, acrescentou.
De acordo com o COI, a mudança de pensamento estaria embasada no fato de que “a grande maioria” dos comitês olímpicos nacionais, federações esportivas internacionais e representantes de atletas consultados apoiaram o direito dos atletas russos e bielorrussos de competir sob “condições estritas”. Os atletas competiriam como neutros e seriam excluídos aqueles que tivessem “apoiado ativamente” a guerra na Ucrânia.
O Comitê Olímpico Europeu (EOC, na sigla em inglês) divulgou uma declaração endossando a ideia do COI e a “importância de remover barreiras para o esporte servir como uma força unificadora”.
Por outro lado, a World Athletics, responsável pelo esporte mais emblemático dos Jogos Olímpicos, o atletismo, divulgou que seu conselho só considerará suspender a proibição total de atletas russos e bielorrussos relacionada à invasão da Ucrânia se sentir que pode ser uma atitude desvinculada da suspensão dos atletas russos por conta do escândalo do “doping patrocinado” na Rússia.