COB “reduz” gastos para justificar Pequim

Pressionado por parlamentares que consideraram fraco o desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) defendeu-se com um estudo de valor questionável. A apresentação, feita pela entidade na C”mara dos Deputados, mostra que o investimento do país em esportes correspondeu a 10% do dinheiro despejado para essa finalidade por potências como Grã-Bretanha, China e Alemanha. Porém, o cálculo é falho por restringir-se ao aporte feito pelo próprio comitê com recursos da Lei Agnelo-Piva, desconsiderando outras fontes. ?São países que, como o Brasil, investem em uma gama variada de modalidades. A diferença está no montante de recursos. Para se obter resultados como os desses países são necessários investimentos a longo prazo, entre oito e 12 anos. Mas vale ressaltar que os investimentos em determinado ciclo não visam apenas a participação nos Jogos Olímpicos. Portanto, não faz sentido se dividir o valor investido no esporte pela quantidade de medalhas conquistadas?, disse Carlos Arthur Nuzman, presidente da entidade. Não por acaso, os três países citados ficaram entre os cinco primeiros no quadro geral de medalhas da última Olimpíada, com a companhia de Estados Unidos e Rússia. De acordo com o estudo apresentado, a verba investida pelo COB no último ciclo foi de R$ 288 milhões (US$ 133 mi), contra US$ 1 bilhão da Grã-Bretanha (R$ 2,27 bi), US$ 1,2 bi da Alemanha (R$ 2,72 bi) e US$ 2 bi da China (R$ 4,54 bi). Essa suposta diferença explicaria, a princípio, a dist”ncia entre os desempenhos. Os dirigentes do COB, porém, também tiveram de esclarecer porque países como Jamaica, Bielorússia e Ucr”nia, entre outros, ficaram à frente do Brasil. ?A Grã-Bretanha, por exemplo, levou a Pequim apenas o hóquei sobre a grama como esporte coletivo [o fato de o Reino Unido reunir quatro países limita oficialmente a participação neste tipo de modalidade]. Já países como Jamaica, Etiópia e Quênia investem os recursos apenas no atletismo. O Brasil tem por tradição investir de forma equilibrada em todas as modalidades, mas está cada vez mais claro que, para obtermos medalhas olímpicas, será necessário direcionarmos os esforços para modalidades que distribuem mais medalhas?, disse Marcus Vinícius Freire, superintendente executivo de esporte do COB. De acordo com levantamento feito pela Máquina do Esporte, o repasse proveniente das loterias chegou, na verdade, à marca de R$ 309 milhões nos quatro anos. Foram R$ 70,8 mi em 2005, R$ 69 mi em 2006, R$ 84,6 mi em 2007 e uma projeção de cerca de R$ 35 mi até agosto de 2008. A apresentação do COB também limita a análise ao repasse feito por eles mesmos. Além da verba da lei Agnelo-Piva, o ciclo olímpico também contou com aportes do Ministério do Esporte, como Bolsa-Atleta (R$ 72,8 mi) e projeto Brasil Campeão (R$ 206,2 mi, usados na preparação para o Pan de 2007). Por último, os investimentos de estatais também foram milionários, com R$ 28,2 milhões da Petrobras, R$ 30,5 milhões dos Correios, R$ 2,4 milhões da Infraero, R$ 30 milhões da Eletrobrás, R$ 78,1 milhões da Caixa e R$ 209 milhões do Banco do Brasil, sendo que o último valor se divide também com patrocínios a atletas como Giba, do vôlei, e Guga, do tênis, entre outros. O total dessa soma chega perto dos R$ 900 milhões (US$ 396,4 mi), valor R$ 612 milhões maior do que aquele apresentado pelo COB. Por isso, ao contrário do ?décimo? apresentado no estudo, o Brasil teve, na verdade, quase 40% do investimento da Grã-Bretanha.

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