Desunião dificulta acordo na Série C

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou, na última terça-feira, que os clubes participantes da Série C do Nacional estavam liberados para negociarem seus direitos de transmissão separadamente. A medida, adotada pela entidade para compensar um enxugamento de recursos, ainda não surtiu efeito entre as equipes. Para muitos, a falta de união na divisão é quem gera as dificuldades financeiras. ?Olha, a Série C é uma missão quase que impossível. Só quem esteve lá para saber. Na ?A?, quem negocia [a exibição na televisão] é o Clube dos 13, na Segundona é a FBA [Futebol Brasil Associados], e na ?C?? Quem negocia??, indagou Édson Nogueira, presidente do Santa Cruz, em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte. Pela primeira vez na Terceirona, o clube pernambucano, com uma das maiores torcidas do Nordeste, seria, teoricamente, um alvo prioritário das emissoras. A Globo local chegou a entrar em negociações, mas os rivais atrapalharam. Com interesses financeiros, os adversários do Santa Cruz não cederam seus direitos de imagem, e as tratativas não avançaram. O problema não se restringe à equipe do Arruda ou ao estado de Pernambuco. Em São Paulo, o Guarani briga para conseguir apoio das emissoras e faz acordos sem receber nada em troca, apenas firmando o compromisso de construção de uma campanha comercial em conjunto. A diferença é que a relação com outras agremiações é mais cordata. ?Aqui também temos problemas com as outras equipes. A diferença é que funciona a política da boa vizinhança. Nós não pagamos a eles, que têm a mesma liberdade conosco. A gente está negociando para que as emissoras transmitam sem pagar. Aí a gente faria esse plano de negócios. Então, uma placa de publicidade, por exemplo, dobraria de preço com a televisão?, disse Mercival Piron, diretor de marketing do Guarani. A legislação brasileira não permite que uma partida seja transmitida pela televisão sem a anuência das duas equipes que disputam o jogo. Com isso, o acordo tem de ser das duas partes, do contrário uma emissora não pode exibir as imagens da partida. A negociação fica ainda mais complicada por causa do sistema de disputa, com quadrangulares sucessivos e possibilidade de revés em vários momentos. Também por isso, a criação de uma entidade que represente os clubes da Série C é vista como possível solução. ?Eu concordo com essa visão. Se você tem um gestor facilita. Primeiro porque ele pensa o campeonato diferente, como um todo. Além disso, você pode fazer um contrato nacional e depois regionalizar a negociação. Já seria um fator positivo?, avaliou Piron. Se essa união passa pela iniciativa dos clubes, a estrutura para que ela possa ser erguida já começou a ser montada. Em abril, a CBF anunciou que, já em 2009, a Terceirona ganhará formato idêntico ao da segunda divisão graças à criação da Série D. ?Temos procurado no mercado quem tem a possibilidade de comprar a competição. Nesse processo, vamos mudar para 20 clubes no ano que vem, o que viabiliza a venda?, disse Virgílio Elísio, diretor-técnico da CBF. Sem a mudança para esse ano, a liberação das negociações com televisões é o único alento das equipes, que não contam mais com a ajuda de R$ 10 milhões que a entidade máxima do futebol dispensava à Série C até a temporada passada. Com um calendário sujeito a mudanças, os clubes não se arriscam a fazer previsões de gastos com a competição. O Santa Cruz, por exemplo, diz gastar quase R$ 50 mil por jogo fora de casa. Já o Guarani acredita que, se for à fase final, terá prejuízo de pelo menos R$ 1,8 milhão.

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