Recordes fazem marketing de Pequim

Um design suntuoso, piscinas minuciosamente planejadas e o maior nome da história da natação. Junte à receita um maiô ?milagroso? para ser a cereja do bolo. Esses são os ingredientes que transformaram o Cubo d?Água e Michael Phelps nos ícones do marketing dos Jogos Olímpicos de Pequim. O complexo que recebe as provas aquáticas na China foi palco de 87 quebras de recordes ? 25 mundiais e 62 olímpicos – em sete dias. Foi ali que o nadador norte-americano conquistou oito medalhas de ouro e se tornou o maior vencedor olímpico de todos os tempos, em uma odisséia seguida braçada a braçadas nos quatro cantos do planeta. ?Eles [os chineses] vão se aproveitar dessa visibilidade para fazer marketing positivo de si mesmos. Daqui a algum tempo, ninguém vai falar de poluição, Tibete, nada disso. Pequim ficará marcada como a sede dos Jogos da superação?, afirma Renato Chvindelman, sócio-diretor da agência Arena Sports Marketing. Concebido para chamar a atenção, o Cubo d?Água custou R$ 250 milhões. Boa parte da verba foi destinada à ?facilitação? científica dos recordes. As piscinas têm três metros de profundidade, 50 centímetros a mais que as de Atenas, em 2004. Além disso, para evitar turbulência, não possuem parte rasa ou funda. As cordas das raias foram desenhadas para aparar as ondas entre elas. A água, que é drenada após cair na borda, é tratada e mantida a temperatura constante. Tudo para potencializar o desempenho dos atletas. No ?epicentro? dessa ação cuidadosamente orquestrada pelos organizadores do evento está a negociação que mudou uma das mais antigas tradições dos Jogos. A pedido da NBC, emissora que detém os direitos de transmissão para os Estados Unidos, as finais da natação foram transferidas para o período da manhã devido ao fuso horário para o Oriente. A alteração fez com que o público norte-americano pudesse acompanhar, em horário nobre, a façanha de seu maior ídolo. A estratégia surtiu efeito e deu ao canal os maiores índices de audiência de uma edição das Olimpíadas disputadas fora do país. ?Foi tudo muito bem planejado. Tudo isso chamou a atenção para a relação dos chineses com a tecnologia e desviou um pouco o foco das coisas ruins. Mesmo quem não é tão fã de natação não se arriscou a perder um minuto das provas. Vimos parte da história olímpica ser construída?, completa o especialista. Antes do início dos Jogos, a natação já protagonizava discussões acaloradas graças ao maiô LZR, da Speedo. Entre quebras de contratos no período pré-olímpico e recordes pulverizados, a fabricante australiana – apoiada no triunfo de Phelps – sai como uma das grandes vencedoras de Pequim. ?Certamente, a marca terá ganhos muito importantes depois das Olimpíadas, ao lado do Phelps, que foi o grande beneficiado com tudo isso. Além disso, é uma vitória do esporte, já que o número de praticantes deve aumentar consideravelmente. A natação não será a mesma?, conclui Chvindelman.

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