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Em guerra com acionistas da Eagle, John Textor cria empresa nas Ilhas Cayman para recomprar Botafogo

Empresário enfrenta rebelião encabeçada por Michele Kang e o fundo de investimento Ares, disputa que ganhou força após o quase rebaixamento do Lyon

O empresário John Textor com o troféu da Copa Libertadores 2024 conquistada pelo Botafogo- Vítor Silva / BFR

O empresário John Textor com o troféu da Copa Libertadores 2024, conquistada pelo Botafogo- Vítor Silva / BFR

O quase rebaixamento do Lyon, na França, serviu para chamar a atenção para fraturas expostas que acometem a Eagle Football Holdings, conglomerado multiclube liderado pelo empresário norte-americano John Textor e que detém 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Botafogo, no Brasil.

Conhecido por seu estilo personalista e midiático (que mais lembra os folclóricos cartolas brasileiros), Textor está em pé de guerra com outros acionistas da empresa.

A disputa ganhou tons mais belicosos em junho deste ano, depois que a Direção Nacional de Controle de Gestão (DNCG), da Liga Profissional de Futebol (LPF) da França, decidiu rebaixar o Lyon, sob o argumento de que o clube não havia apresentado garantias para quitar uma dívida de € 175 milhões.

Logo após o rebaixamento do Lyon, Textor decidiu renunciar à presidência do clube. Em seu lugar assumiram Michael Gerlinger, como CEO, e Michele Kang, como presidente do Conselho. Hoje, ela pode ser considerada a inimiga número 1 do empresário norte-americano.

O fator Lyon

No começo deste mês, para agravar ainda mais a situação, o jornal francês L’Equipe divulgou reportagem informando Textor teria utilizado recursos do Lyon para contratar jogadores para o Botafogo, que se sagrou campeão do Brasileirão da Série A e da Copa Libertadores, em 2024

Segundo a matéria, os balanços da equipe francesa mostram gastos de € 91,7 milhões de euros com as contratações de Luiz Henrique, Igor Jesus e Jair Cunha, atletas que defenderam o Botafogo e jamais vestiram a camisa do Lyon.

Além disso, o demonstrativo financeiro apresenta gastos com salários de 54 jogadores, apesar de o elenco do time francês contar com apenas 30 atletas.

Passados dois dias da publicação dessa reportagem, o Comitê Federal de Apelações, reunido na sede da Federação Francesa de Futebol (FFF), acolheu o recurso do Lyon, que se comprometeu a seguir à risca as regras de fair play da LPF.

Participaram da audiência (que manteve o time na Ligue 1) Gerlinger, Kang e Mark Affolter, da Ares Management. A empresa e a presidente do Conselho são acionistas do Lyon.

Eles prometeram à Comissão Federal de Apelações que Textor não participaria mais da gestão do clube, mesmo seguindo na condição de acionista majoritário.

Segundo a imprensa francesa, ambos estão unidos na tentativa de expulsar Textor não apenas do Lyon, mas de todo o negócio no futebol.

Botafogo

Em 2022, Ares Management emprestou boa parte do dinheiro usado por Textor para a compra do Lyon, em um negócio avaliado em € 800 milhões. Hoje o fundo alega que ainda não recebeu o montante disponibilizado para o empresário adquirir o clube.

De acordo com o portal GE, Kang e os demais acionistas, incluindo a Ares, teriam feito uma devassa nas contas da equipe e constatado uma situação de descontrole financeiro.

Eles estariam dispostos a não apenas afastar Textor da administração do time francês, mas cortar qualquer vínculo do empresário com a rede multiclube por ele criada.

No Botafogo, porém, esse movimento acabou sendo barrado pelo clube associativo, que é acionista minoritário e tem o poder de barrar mudanças no controle da SAF.

Segundo o GE, o presidente do Botafogo social, João Paulo Magalhães Lins, e outros conselheiros enviaram à Eagle uma carta em desagravo a Textor.

“Não permitimos que nada de ruim acontecesse a ele, pessoa física. É nosso, pertence ao Botafogo”, disse o dirigente, ao GE.

Com a situação controlada no Botafogo, Textor usou sua conta no Instagram para desferir estocadas contra os desafetos corporativos.

“Perseguindo troféus, recrutando sem algemas. Tão prazeroso comandar um clube sem agendas políticas envolvidas”, publicou o empresário, em seus stories.

John Textor publicou indiretas sobre a disputa na Eagle – Reprodução / Instagram (@john_textor)

Ilhas Cayman

Textor sabe que a disputa com Kang e o fundo de investimentos não será resolvida com bravatas ou indiretas publicadas nas redes sociais.

Por isso, ele busca um meio de afastar o Botafogo e também o Daring, da Bélgica, do alcance de seus adversários.

De acordo com o jornal O Globo, Textor abriu uma nova empresa nas Ilhas Cayman, território ultramarino do Reino Unido, localizado no Caribe e conhecido por servir de “paraíso fiscal”.

Batizada de Eagle Football Group, essa companhia tem o objetivo de adquirir Botafogo e Daring, que deixariam de integrar o patrimônio da Eagle Football Holdings, que também é dona do Lyon.

Apesar dessa separação, Textor permaneceria, pelo menos por enquanto, à frente das duas companhias, mas os times deixariam de integrar o mesmo grupo.