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O que explica o rebaixamento de três clubes nordestinos na Série A do Brasileirão em 2025?

Desde 2006, quando o torneio passou a ser disputado por 20 times, essa foi a primeira vez que três clubes da região foram rebaixados em uma mesma edição

Breno Lopes, atacante do Fortaleza, que foi rebaixado com o clube no Brasileirão 2025 - Kid Júnior / SVM

A edição de 2025 do Brasileirão foi a que contou com mais clubes nordestinos na história. Representando 25% do campeonato, cinco times da região estiveram na elite do futebol nacional neste ano. No entanto, aquilo que parecia ser o início de uma expansão regional das equipes do Campeonato Brasileiro para além do Eixo Sul-Sudeste, virou uma concentração ainda maior quando se olha para quem foi rebaixado à Série B e quem subiu para a primeira divisão de 2026.

Isso porque três clubes da Região Sul (Coritiba, Athletico-PR e Chapecoense), além de um da Região Norte (Remo), conseguiram o acesso à Série A do ano que vem, enquanto os nordestinos Ceará, Fortaleza e Sport caíram para a segunda divisão (ao lado do Juventude). Dessa forma, em 2026, apenas Bahia e Vitória representarão o Nordeste na elite da próxima edição do Campeonato Brasileiro. 

No ano que vem, as Regiões Sul e Sudeste terão, juntas, 85% dos participantes do Brasileirão, contra 10% do Nordeste e 5% do Norte. Assim como neste ano, o Centro-Oeste não terá representantes. Vale destacar que esta foi a primeira vez desde o Campeonato Brasileiro de 2006, quando a competição passou a contar com 20 clubes no formato de pontos corridos, que três equipes nordestinas foram rebaixadas em uma mesma edição do torneio. 

Para entender por que isso aconteceu é preciso analisar o caso de cada clube nordestino rebaixado em 2025 individualmente e junto do contexto econômico e financeiro do futebol nacional. Começando por este último aspecto, a inflação nas taxas de transferências e salários dos jogadores observada nos últimos anos, não apenas no Brasil, é um fator crucial para compreender essa questão.

Isso porque, com o aumento dos valores das transferências, uma ou mais contratações que tenham um desempenho esportivo abaixo do esperado custam mais caro, principalmente para equipes com orçamentos mais apertados, em relação a alguns anos atrás. No cenário atual, não há mais margem para erro nos times de menor arrecadação, já que, muitas vezes, se torna inviável financeiramente trazer um outro jogador para repor aquele que não performou.

Além disso, para a temporada de 2025, tanto Ceará quanto Fortaleza e Sport apresentaram os maiores orçamentos financeiros das suas histórias. Ainda assim, isso não foi suficiente para mantê-los na elite do futebol nacional, muito por conta de algumas decisões esportivas tomadas ao longo da temporada e da diferença na capacidade de arrecadação e investimento desses clubes com relação a outros que também disputaram a permanência na Série A neste ano.

O Internacional, por exemplo, que evitou o rebaixamento na última rodada, tem uma receita bruta prevista para 2025 de cerca de R$ 636 milhões, enquanto a previsão do Fortaleza é de arrecadar em torno de R$ 380 milhões neste ano. Já Ceará e Sport projetam entre R$ 180 milhões e R$ 200 milhões em receitas para esta temporada.

Por outro lado, o Vitória, que garantiu a permanência na Série A também na 38ª rodada, assim como o Internacional, também teve o maior orçamento da sua história em 2025, com a previsão de arrecadar mais de R$ 280 milhões brutos neste ano.

Mesmo com a disparidade financeira em relação a outros times do Brasileirão, o clube baiano conseguiu se manter na primeira divisão. Por isso, é importante também considerar e analisar o contexto individual da temporada dos três times nordestinos rebaixados para entender as razões pelas quais isso aconteceu.

Fortaleza

O Leão do Pici começou a temporada de 2025 classificado à fase de grupos da Libertadores e dando sequência ao trabalho de Juan Pablo Vojvoda, que já estava há cerca de três anos no comando técnico da equipe. No entanto, na janela de transferências do início do ano, o Fortaleza negociou jogadores importantes da equipe, como o volante Hércules, além de outros atletas que compunham o elenco do clube. 

Com contratações pontuais voltadas para um perfil de atletas mais experientes no começo da temporada, o Fortaleza perdeu a final do Estadual para o Ceará e venceu apenas dois jogos até a 13ª rodada do Brasileirão, quando a diretoria optou pela demissão de Vojvoda. Naquela altura, o time já estava na zona de rebaixamento. Por outro lado, a equipe estava classificada às oitavas de final da Libertadores.

Na janela do meio do ano, o Fortaleza ainda trouxe 12 reforços para tentar reverter a situação do time no Brasileirão e se manter vivo na disputa por uma vaga nas quartas de final da Libertadores, o que não foi possível. Sob o comando técnico de Renato Paiva, a equipe foi eliminada pelo Vélez Sarsfield (ARG) no torneio continental e não conseguiu melhorar o desempenho no Campeonato Brasileiro.

Com as mesmas duas vitórias conquistadas ainda com Vojvoda em todo o primeiro turno, o Fortaleza trocou novamente de treinador após a 21ª rodada do Brasileirão, quando trouxe o argentino Martín Palermo para tentar salvar o time do rebaixamento. Os reforços contratados não performaram como se esperava e a estratégia de apostar em “medalhões” como David Luiz, Pol Fernandez, Deyverson e Diogo Barbosa não deu certo.

Sob o comando de Palermo, o time até reagiu após a 29ª rodada da competição, chegando a sair da zona de rebaixamento na penúltima rodada. Porém, a combinação de resultados, junto à derrota para o Botafogo no último domingo (6), foi fatal e acabou rebaixando o Leão do Pici. 

No geral, a estratégia de montagem de elenco e algumas decisões esportivas tomadas pelo Fortaleza, somadas ao fator financeiro, que não permitiu ao clube contratar jogadores melhores e com maior potencial de solucionar os problemas do time em campo, foram os principais fatores que contribuíram para a queda à Série B.

Sport

Vindo da Série B, a principal meta do Sport para a temporada de 2025 era se manter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Para isso, o clube apostou na reformulação do elenco, com a contratação de 15 jogadores logo no início do ano. Ao longo do Estadual, a estratégia parecia que daria certo, considerando-se que o clube se consagrou campeão do torneio. 

Porém, com o início do Brasleirão, os problemas dentro de campo começaram a aparecer. Depois de sete jogos sem vitórias na competição, o time pernambucano trocou de técnico pela primeira vez na temporada, demitindo Pepa e trazendo António Oliveira para o lugar. O novo comandante, no entanto, permaneceu no cargo por apenas quatro partidas.

Com um empate e três derrotas, o português deu lugar a Daniel Paulista, que ficou na equipe até outubro, quando o Sport já se encontrava praticamente rebaixado. César Lucena, então, assumiu o comando técnico do time interinamente até o fim da temporada. 

Mas, para além das diversas trocas de treinadores, as finanças do clube também foram um fator crítico em 2025. O Sport sofreu com episódios de atrasos de salários ao longo do ano, além de cobranças de jogadores e do ex-treinador António Oliveira na Justiça, o que também afetou o desempenho esportivo. 

A forte pressão política em cima do presidente Yuri Romão, bem como protestos dos torcedores por conta do desempenho do time, com direito a uma invasão do Centro de Treinamento (CT) do clube por membros de uma das torcidas organizadas, conturbaram ainda mais a situação esportiva e o ambiente interno da equipe.

Toda esse conxtexto, aliado aos problemas financeiros e às contratações incompatíveis com as finanças do Sport, foram determinantes para o rebaixamento do time em 2025 e também para a renúncia de Yuri Romão do cargo de presidente do clube, anunciada em novembro.

Ceará

Assim como o Sport, o Ceará também disputou a Série B em 2024 e, com a conquista do acesso, promoveu uma profunda reformulação no elenco para a temporada de 2025. Chegaram 16 reforços e houve a saída de 16 jogadores que disputaram a segunda divisão pelo Vozão.

Campeão estadual de 2025 em cima do rival Fortaleza, o Ceará ainda fez um 1º turno satisfatório no Campeonato Brasileiro, ficando em 13º lugar, com 22 pontos. Porém, na segunda metade do Brasileirão, o clube teve um desempenho abaixo, e a reta final com quatro derrotas e um empate nos últimos cinco jogos foi determinante para o rebaixamento do time, que entrou no Z4 apenas na última rodada da competição.

No geral, os fatores que rebaixaram o Ceará estão mais ligados à questão esportiva e à performance do time na reta final do Brasileirão do que propriamente a questões estruturais do clube. Vale lembrar que a equipe precisava de apenas dois pontos nas últimas cinco rodadas para se manter na Série A. Porém, a sequência difícil contra Internacional, Mirassol, Cruzeiro, Flamengo e Palmeiras (estes últimos quatro sendo os quatro primeiros na tabela de classificação) fez o Vozão somar apenas um ponto na reta final da competição.