No dia 2 de outubro de 2009, o Rio de Janeiro foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016. Ali, naquela reta final de 2009, já se sabia também que o Brasil sediaria a Copa do Mundo de 2014, ainda que faltasse algum grau de firmeza por parte da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e de Jérôme Valcke para cravar que essa decisão era de fato definitiva.
Anos antes, já havíamos realizado os Jogos Pan-Americanos de 2007, também no Rio de Janeiro, o que serviu como uma espécie de vestibular para esse momento futuro que se desenhava. Porque foi ali, a partir daquele outubro de 2009, que nosso mercado viu acontecer uma explosão de interesse, relevância e investimentos, que marcaram de forma decisiva a história do esporte no país.
2010 a 2016: A Era de Ouro
A partir de 2010, foram inúmeras as grandes marcas, agências e grupos internacionais, muito além do esporte e do entretenimento, que cresceram os olhos e os orçamentos mirando em expandir ou mesmo entrar no país, acreditando que não somente éramos a bola da vez, como também que a profecia de que seríamos o país do futuro finalmente haveria de se realizar. Foi o caso da americana Octagon, por exemplo, que me contratou como primeiro funcionário no Brasil ainda no início de 2010 e para onde acabo, de certa maneira, de retornar, ainda que agora para uma Octagon Latam (América Latina) muito maior e robusta, e atualmente parte da ODDZ Network.
Exceções à parte, o que se sucedeu para a maioria do mercado pós-Rio 2016, todos sabemos: fomos engolidos pela tempestade perfeita, alimentada por crises de todas as naturezas (política, econômica, social e mesmo esportiva, com nosso novo Maracanazo, agora em versão 7.1).
E, ainda que existam legados de infraestrutura muito importantes, deixados tanto pela Copa quanto pelos Jogos Olímpicos, o retrogosto desse período, de 2013 a 2016, principalmente, definitivamente não é dos mais doces para o país.
2018 a 2023: A Era Distante
Findada a festa que fizemos para receber o mundo em casa, mas que mal pudemos aproveitar e ainda ficamos com a conta para pagar sozinhos, o universo esportivo como um todo entrou em uma nova fase, com os grandes eventos migrando para países cultural e/ou geograficamente muito distantes de nós, o que sempre causa um impacto em termos de relevância. Para piorar, nesse período atravessamos a crise sanitária mais fatal da história da humanidade, que virou o mundo e o esporte de cabeça para baixo.
A começar pela Copa da Rússia 2018, sem a participação dos EUA, por exemplo, assim como os boicotados Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 na China, também sem os EUA. Mas, antes mesmo disso, os aguardados Jogos de Tóquio 2020 acabaram por se tornar os primeiros disputados em um ano ímpar, sem a presença de público, forçadamente adiados em função da pandemia. Para fechar esse período complexo, tivemos as últimas Copas do Mundo disputadas, respectivamente, curvando-se ao regime autoritário do Catar em 2022, e em um dos fusos horários menos favoráveis do planeta para o público brasileiro, na Austrália e na Nova Zelândia, agora em 2023.
2024 a 2028: O Novo Ciclo Virtuoso
O que veremos nos próximos anos, de 2024 até pelo menos 2028, será uma nova fase sem precedentes para o esporte, tanto em escala global quanto para o Brasil e a América do Sul. Em nível macro, estamos prestes a testemunhar os Jogos Olímpicos mais incríveis da história, em Paris 2024. OK, confesso: esta é uma opinião, e não um fato consumado. Mas você já parou para imaginar quão linda será uma Cerimônia de Abertura realizada ao ar livre, às margens do Rio Sena? Ou nas imagens do vôlei de praia no Trocadero, com a Torre Eiffel ao fundo? E as provas de surfe no Tahiti? Podem anotar e me cobrar depois: Paris 2024 serão, sim, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos mais incríveis da história.
Chegando a 2026, temos agora fatos, e não mais somente opiniões, para cravar: Canadá, México e EUA farão a maior Copa do Mundo de todos os tempos. Isso não só por ser a primeira vez em que haverá três países coanfitriões, mas também por termos um número recorde de cidades-sede e de seleções participantes, saltando dos atuais 32 países para nada menos que 48. Naturalmente, esse será um evento de proporções épicas, realizado na região que engloba a maior economia do mundo, em uma cultura e localização geográfica que boa parte dos brasileiros já está acostumada.
Para fechar a tríade dos maiores eventos esportivos do mundo nesse período mágico que vem pela frente, os EUA voltarão a receber o planeta em casa já em 2028, mais precisamente em Los Angeles, na belíssima Califórnia, de onde decolei há pouco, após alguns dias de reuniões com entidades esportivas sediadas ali, já nos preparando para esse ciclo virtuoso de 2024 a 2028. A tarefa de superar Paris não será simples, mas não dá nunca para duvidar da capacidade de encantar e surpreender dos americanos, autoridades máximas em transformar o esporte em entretenimento.
Em escala global, nesse meio-tempo ainda teremos, em 2025, o lançamento do novo formato do Mundial de Clubes da Fifa, que passará a ser realizado a cada quatro anos, reunindo agora 32 times de todos os continentes, sendo seis da América do Sul. Esta primeira edição terá os EUA, novamente eles, como sede. Esse novo formato representa uma tentativa da Fifa de explorar de maneira mais ampla a base de torcedores dos clubes europeus, ampliando a relevância de propriedades da entidade para além das competições entre seleções internacionais.
Impacto Local
Antes mesmo de Paris 2024, e funcionando como uma espécie de aquecimento para a Copa do Mundo de 2026, os EUA também receberão (e participarão) uma encorpada Copa América 2024, que tem tudo para ser uma das mais emblemáticas da história, tendo a atual campeã mundial e continental Argentina como grande destaque, especialmente considerando todo o “hype” em torno da “estrela da casa” Lionel Messi e sua chegada à MLS. Para a seleção brasileira, o momento será de nos vingarmos da derrota em casa na última edição, voltando a conquistar um novo título oficial depois de cinco anos, talvez já com Carlo Ancelotti no comando. Será?
Também em 2024, mais precisamente em maio, a Fifa se reunirá para decidir a sede da Copa do Mundo Feminina de 2027, com o Brasil estando “muito bem cotado”, nas palavras de dirigentes da própria entidade. Tudo indica que nosso principal rival neste pleito será… “surprise!”… novamente os próprios Estados Unidos, que querem sediar nos próximos anos basicamente tudo que há para se sediar. Sigo otimista de que podemos tirar esse doce da boca deles, assim como o Rio tirou o Pan de 2007 de San Antonio, no Texas.
No Brasil, especificamente, há ainda muitos outros motivos para acreditarmos que teremos anos especiais pela frente. O futebol vive um momento de evolução, com crescimento das médias de público, consequência também da consolidação de torneios importantes como a Conmebol Libertadores e a Conmebol Sul-Americana, além do Brasileirão e da Copa do Brasil. Fora isso, seguem vivas as tratativas para a criação de uma liga de futebol profissional (tão desejada por tantos e tão atrapalhada por poucos), além do avanço das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) como modelo de recuperação e fortalecimento dos times.
Em outros esportes, após o sucesso e as conquistas da NBA e da WSL em território brasileiro, entidades como a NFL voltam a encarar o país como um mercado estratégico, com os justificados e crescentes rumores de que, mais cedo do que mais tarde, o país deverá receber um dos tão aguardados NFL International Games, que a liga de futebol americano promove em mercados cuidadosamente selecionados.
Muito Além do Período de 2024 a 2028
Pós-2028 ainda poderemos ver, bem de perto, a cereja do bolo dessa nova era que se inicia agora. Isso por conta da possibilidade de uma candidatura conjunta entre Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai conquistar o direito de sediar a Copa do Mundo da Fifa de 2030, na celebração dos 100 anos do primeiro Mundial no Uruguai. Os principais rivais, desta vez, são Espanha e Arábia Saudita, mas isso é assunto para outra coluna.
De 2024 a 2028, este novo ciclo virtuoso consolidará o esporte de forma definitiva como a maior e mais importante plataforma para marcas que desejam impactar seus públicos de maneira relevante e criativa. Se você é responsável, direto ou indireto, pelas decisões de marketing de uma marca, não cometa o erro de desperdiçar as oportunidades que surgem nesse momento. Trabalhe com especialistas desse universo e saiba como se posicionar nesse território, construindo significado e um futuro relevante para sua marca.
Felipe Soalheiro é head de novos negócios da ODDZ Network e escreve mensalmente na Máquina do Esporte