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A Uefa e a nova estratégia para os direitos de transmissão da Champions League

Concorrência para o próximo ciclo vai a mercado pela primeira vez em cinco países de forma simultânea e há a possibilidade de que uma única plataforma exiba globalmente uma primeira escolha nos jogos de terça-feira

O capitão Marquinhos, do PSG, com o troféu da Champions - Reprodução / Instagram @psg

Marquinhos, capitão do PSG, com o troféu da Champions League 2024/2025 - Reprodução / Instagram (@psg)

Recentemente, a Uefa e sua nova agência, a Relevent Football Partners, deram o pontapé inicial ao processo de licitação dos direitos de transmissão da Champions League para o próximo ciclo, que começará a partir da temporada 2027/2028, em alguns dos seus principais mercados domésticos.

Ao contrário do que acontece aqui na América Latina já há algum tempo, em que, por conta do idioma, há uma venda de propriedades que chamamos de pan-regional, esta é a primeira vez que a concorrência pelos direitos da principal competição de clubes do continente europeu vai a mercado simultaneamente em cinco países (Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido), possibilitando que alguma plataforma compre esses direitos para mais de um território.

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Estes cinco são os principais mercados da Champions League devido à relevância de seus clubes em todas as competições continentais. Para se ter uma ideia, a última vez que um clube fora destes cinco países chegou à final foi na temporada 2003/2004, quando o Porto bateu o Monaco por 3 a 0 e se sagrou campeão. De lá para cá, só alemães, espanhóis, franceses, italianos e ingleses jogaram finais de Champions League. 

Esta licitação também traz uma outra novidade: a possibilidade de que uma única plataforma exiba globalmente uma primeira escolha nos jogos de terça-feira. Algo muito similar com o que a NFL fez com Netflix e Amazon para os jogos de Natal e Black Friday, respectivamente.

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Quando se fala em plataforma global, as primeiras que sempre vêm à cabeça de todos são Netflix, DAZN e Apple. Pelo que pude observar na imprensa internacional, todos citam estas como o grande foco da Uefa com este pacote global, mas vale refletir que, no passado, era muito mais complexo abrir um canal de distribuição de conteúdo em um novo mercado, pois dependia-se de acordos de distribuição (“carriage deals”) com plataformas de TV por assinatura, equipe local para produção e nacionalização do conteúdo, equipe de venda de publicidade, etc.

Atualmente, com as plataformas de streaming, isso é muito mais fácil. Todas as plataformas, como Disney+, Prime Video, HBO Max e Paramount+, entre outras, têm alcance global. Basta habilitar ou desabilitar cada país com a simplicidade de um clique. Sim, só um clique mesmo.

Obviamente que, por conta de todos os dados que estas mesmas plataformas capturam e também do histórico que as empresas têm do próprio passado como canal de TV, o foco de cada uma é em mercados onde os resultados são positivos, mas nada impede que possam disponibilizar, por meio do seu app, qualquer conteúdo de forma global. Aliás, nada melhor do que abrir a operação em um novo mercado com um produto como a Champions League.

Por conta deste cenário, eu não cravaria que o pacote global tem destino certo. Acredito que todas as possibilidades estão abertas, já que o conteúdo é relevante e pode permitir a abertura de novos mercados para plataformas que ainda não chegaram a todos os países.

Uma outra novidade é que o campeão do ano anterior passará a fazer sua estreia em um jogo isolado na terça-feira, quando todos os outros jogos ocorrerão na quarta e na quinta da mesma semana. Para que isso possa ocorrer, a Europa League e a Conference League não terão jogos nesta primeira semana.

Pela relevância do conteúdo e o apelo global do torneio, a Champions League tem sido a precursora no universo do futebol a testar novos formatos, pacotes e calendários. Mas aqui vale outra observação: a estratégia pode funcionar para uma competição específica, mas não necessariamente funciona para outras. A comercialização de direitos não é uma ciência exata, pois depende de muitos fatores que precisam estar devidamente alinhados para que se chegue ao sucesso desejado.

Vamos ver, nos próximos meses, como os astros se alinharão com essa nova estratégia da Uefa.

O artigo acima reflete a opinião do colunista e não necessariamente a da Máquina do Esporte

Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina

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