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“Bahia Day” na Premier League? Grupo City entendeu o Brasil e começou pela Bahia

Futebol deixou de ser apenas esporte há muito tempo. e se tornou plataforma de cultura, branding, negócios e, acima de tudo, pertencimento

3ª edição do "Bahia Day" foi realizada no dia 23 de agosto, no Etihad Stadium, em Manchester - Catarina Brandão / Bahia

Após dois jogos da seleção brasileira de futebol, mais uma edição da NFL no Brasil e minha participação em mais uma Confut Sudamericana, consegui retomar o fôlego para contar que, há pouco mais de três semanas, uma nova página memorável foi escrita no livro, ainda recente, do Bahia como parte do City Football Group (CFG) ou só Grupo City.

Durante a abertura da Premier League, na partida entre Manchester City e Tottenham, a 3ª edição do “Bahia Day” transformou o matchday em um verdadeiro espetáculo de integração cultural.

A pergunta que ficou ecoando no ar não foi sobre tática ou escalação. Foi simples e, ao mesmo tempo, genial, direta e provocativa: por que não fazemos mais isso?

Enquanto a bola ainda não rolava, a Bahia já era o centro do espetáculo. Capoeiristas tomaram o campo com sua ginga, giros e berimbaus. O cheiro do acarajé se misturava com o tradicional “fish and chips” das arquibancadas. Ao fundo, a música baiana criava um misto de entusiasmo e estranheza, com sorrisos discretos e alguns passos desajeitados de torcedores ingleses, curiosos em observar de perto o que é o BBMP (sigla bastante utilizada nas redes sociais e durante os jogos do Bahia) na prática.

“Bahia Day” teve apresentação de capoeira em frente ao Etihad Stadium – Catarina Brandão / Bahia

Não era só uma ação de marketing, era um manifesto cultural. Era Salvador cobrindo Manchester com fitas gigantes do Senhor do Bonfim, daquelas que a gente amarra no pulso e não deve jamais cortar. Era o Brasil sendo Brasil, com autenticidade, com alma e com a assinatura de um dos mais ousados, completos e preparados profissionais de marketing do nosso segmento: Rafael Soares.

Nos Estados Unidos, o matchday da NFL é tratado como um espetáculo completo. Chegar horas antes da partida é parte do ritual, e tive a oportunidade de vivenciar isso de perto em Boston, no jogo entre New England Patriots e Miami Dolphins.

Eram centenas de picapes ao redor do estádio e famílias inteiras jogando a bola oval de um lado para o outro com o típico churrasco americano produzindo fumaça e barulho muito antes do kick-off. As marcas investem pesado para fazer do pré-jogo uma experiência inesquecível. Segundo o site Statista, um fã da NFL gasta, em média, US$ 110 por jogo, entre alimentação, produtos e entretenimento extracampo.

O resultado? Mais de 67% dos torcedores afirmam que a experiência no estádio é tão importante quanto o próprio jogo. E o “Bahia Day” mostrou que essa lógica pode (e deve) ser tropicalizada.

Levar a cultura baiana ao Etihad Stadium não foi apenas um “momento fofo”. Foi uma ativação com potencial real de engajamento, branding, internacionalização e conexão emocional.

Mais do que um clube, o Bahia se posicionou como um símbolo de diversidade dentro do Grupo City. E a equipe de marketing, comandada por Rafael, mostrou que pode entregar experiências inesquecíveis, inclusive na terra do Rei (embora fosse mais divertido dizer “da Rainha”) Charles.

Enquanto o time inglês coleciona troféus (apesar da derrota na partida por 2 a 0), o clube baiano começa a colecionar não só títulos, como a conquista da Copa do Nordeste pela quinta vez, mas também respeito global por sua representatividade cultural, algo que muitos clubes brasileiros ainda buscam (e que, com exceção do que vimos recentemente na Copa do Mundo de Clubes, ainda não encontraram com consistência).

Essa ativação é prova viva de que o que acontece fora das quatro linhas também ganha campeonatos. Os clubes que entenderem isso sairão na frente, porque criam identidade e vendem valor (e não apenas ingressos).

O Bahia mostrou que a integração entre clubes de um mesmo grupo vai muito além da venda ou do empréstimo de atletas. Ela acontece quando há intercâmbio de cultura, de propósito, de alma.

À ocasião, também tive a oportunidade de estar no mesmo ambiente de Ferran Soriano, CEO do Grupo City, e também do técnico Pep Guardiola, interagindo normalmente com os demais profissionais no refeitório das instalações do City.

E duas coisas ficaram claras: a cultura brasileira (em especial a baiana) foi tema recorrente nas diversas interações com inúmeros profissionais do clube inglês, e a imprensa brasileira e até mesmo os clubes nacionais ainda não têm a menor dimensão do que é esse projeto.

Ingleses puderam experimentar o acarajé durante o “Bahia Day” – Catarina Brandão / Bahia

Tudo isso só é possível porque o futebol deixou de ser apenas esporte há muito tempo. Hoje, ele é plataforma de cultura, branding, negócios e, acima de tudo, pertencimento. Foi com esse olhar que o Grupo City construiu o maior e mais ambicioso projeto multiclubes do planeta. E é com esse mesmo olhar que escolheu o Bahia para fazer parte dessa jornada.

Hoje, o grupo já soma 14 clubes em cinco continentes, com nomes como Manchester City (Inglaterra), New York City FC (EUA), Girona (Espanha), Melbourne City (Austrália), Montevideo City Torque (Uruguai), Mumbai City (Índia), Yokohama Marinos (Japão), Lommel SK (Bélgica), Palermo (Itália), Troyes (França), Shenzhen Peng City (China), Bolívar (Bolívia) e, é claro, o Bahia (Brasil).

Essa estrutura permite compartilhar talentos, inovação, dados, modelos de gestão e performance, transformando o grupo em um ecossistema vivo e, por que não dizer, cultural. O Grupo City não procurava apenas um clube no Brasil. Buscava um símbolo de paixão autêntica, engajamento real e torcida vibrante. Queria raízes populares, representatividade e energia emocional.

E encontrou tudo isso no Esporte Clube Bahia.

O Bahia representa o Brasil profundo, aquele que canta, dança, sofre e sorri com o futebol, aquele que não torce só por títulos, torce por uma causa. E mais: mostrou que o Brasil tem muito a ensinar ao mundo, pois tem sabor, ritmo e o principal ativo: um povo e um clube com planejamento, estratégia e trabalho com foco em pertencer globalmente.

Pertencer não é só jogar; é encantar. E o “Bahia Day” deu uma aula de encantamento, que pode (e deve) servir de inspiração para o futebol brasileiro.

Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End

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