Na Paris Olímpica, o Brasil já ocupa lugar de destaque. Uma das primeiras delegações a estabelecer sua base de preparação e apoio a operações, o Brasil está mais presente do que nunca nas manchetes de jornais graças ao prefeito da pequena Saint-Ouen-sur-Seine (cerca de 60 mil habitantes), localizada a pouco mais de 6km do centro da capital francesa. Karim Bouamrane, o prefeito, há algum tempo acelerou a visibilidade de sua cidade, gerando não apenas mídia, mas também negócios. Saint-Ouen fica dentro da região de Seine-Saint-Denis, uma das mais pobres da França. Tanto que o New York Times perguntou em sua edição do último dia 20 de fevereiro: “Será que os Jogos Olímpicos poderão rejuvenescer um dos rincões mais pobres da França?”.
A julgar pelo recente anúncio da nova fábrica da Tesla em Saint-Ouen, talvez sim. A cidade-sede da Vila dos Atletas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 vem passando por uma grande reurbanização para atrair novos moradores e deixar de ser um lugar a ser evitado para se transformar no “local para se estar”. Outro dia, o próprio Bouamrane apareceu nas redes para apresentar um grande polo gastronômico, um dos maiores do gênero no país da comida boa.
Mas e o Brasil nisso tudo?
Além da base que será montada no castelo de Saint-Ouen e na Serre Wangari, a bonita estufa envidraçada no principal parque da cidade, o Brasil tem ocupado papel de protagonista nesse reposicionamento de imagem de Saint-Ouen. Na estratégia de Bouamrane, além de um grande potencial de negócios (o prefeito recentemente esteve em Belém (PA), sede da próxima Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP), em busca de parcerias com cunho ambiental e uma cidade para chamar de “gêmea” na Região Norte), o verde-amarelo confere atributos valiosos para a atratividade e juventude almejadas. O Brasil que canta e é feliz, um dos grandes cartões de visita da brasilidade mundo afora, e que rendeu até um Carnaval fora de época na cidade no começo de abril.
Outro trunfo de Saint-Ouen é a boa relação de Bouamrane com o ex-jogador Raí, que tem cumprido (in)formalmente as vezes de embaixador dessa conexão, seja através de sua Fundação Gol de Letra ou de ações dentro do projeto “Brésil-sur-Seine” (o que seria “Brasil em cena”, em um trocadilho com o nome da Saint-Ouen-sur-Seine).
Sócrates (irmão de Raí) foi recentemente homenageado batizando uma rua na cidade (justo dentro da Vila dos Atletas, bem próximo ao prédio a ser ocupado pelas delegações brasileiras olímpica e paralímpica), e com direito a uma potente fala do socialista Bouamrane que, dizem, tem pretensões de chegar ao Palácio Eliseu: “Entre Neymar, que apoiou Bolsonaro, e Raí, que apoiou Lula, eu fiz minha escolha. Entre Neymar e Sócrates, eu fiz minha escolha. Aqui é o punho levantado. É o que a gente leva no coração. É por isso que estamos aqui”, afirmou o prefeito, que publicou a declaração também em sua conta no Instagram.
É, definitivamente, quando os atletas brasileiros entrarem em cena em julho, certamente Saint-Ouen-sur-Seine nunca mais será a mesma.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte